VÍDEO: como é o ex-motel que cobrava R$ 70 e anunciou vagas por até R$ 7 mil para a COP30

VÍDEO: como é o ex-motel que cobrava R$ 70 e anunciou vagas por até R$ 7 mil para a COP30


G1 visita hotel em Belém que chegou a cobrar R$ 6 mil por diária durante a COP30
“Teste de mercado”: é assim que o gerente do Hotel COP30, em Belém (PA), justificou diárias que oscilavam de R$ 5,6 mil a até R$ 7 mil para hospedagem na semana da conferência da ONU sobre mudanças climáticas, em novembro.
O hotel, que tem 17 quartos e fica no bairro da Campina, no centro da capital paraense, passou por reforma e ganhou novo nome em 2024.
Antes conhecido como Hotel Nota 10, o local operava com diárias a partir de R$ 70. O g1 visitou o estabelecimento, entrou nos quartos e conversou com o gerente sobre os preços, a estrutura e a estratégia para o evento (veja VÍDEO acima).
Viral na internet
Comparação que viralizou em post no X com base em imagens do Google Maps e preço de hospedagem em plataforma
Reprodução
O Hotel Cop30 viralizou na semana passada com um post no X: a foto mostrava o “antes e depois” da fachada do estabelecimento e exibia um print de uma reserva na Booking, com o valor de R$ 6,3 mil. O g1 chegou fazer cotações de hospedagens por até R$ 7 mil no mesmo site.
A publicação no X ganhou destaque justamente no dia em que o preço dos hotéis na capital paraense se tornou um dos pontos de tensão da COP30. Após reclamação de delegações e a realização de uma reunião de emergência na ONU, o presidente do evento, André Corrêa do Lago, admitiu que o custo de hospedagem pode barrar países pobres e afetar a legitimidade do encontro. Os valores seguem altos e o governo diz que busca solução.
Valores “reformulados”
No caso do Hotel COP30, os valores praticados não são mais de até R$ 7 mil. Após a visita do g1 ao local na segunda-feira, a administração divulgou uma nota oficial informando que os valores foram “reformulados”.
Nesta quarta-feira (6), uma diária para o período da cúpula, no Booking.com, aparecia por R$ 2.275 para um quarto duplo com banheiro privativo e com cama de casal.
“Foi um teste de mercado. Nenhuma diária foi vendida por esse valor”, afirma Alcides Moura, gerente do estabelecimento.
Hotel gera polêmica ao mudar fachada e cobrar cerca de 9.000% a mais no valor da diária
Divulgação
Hotel trocou móveis, fachada e estratégia
O prédio onde hoje funciona o Hotel COP30 foi adquirido por novos proprietários em agosto de 2024, de acordo com a gerência.
Os funcionários explica que o local passou por uma reforma completa: todos os quartos ganharam ar-condicionado, frigobar, chuveiro elétrico e nova mobília.
É #FATO: Hotel Nota 10, em Belém, mudou nome para Hotel COP 30 e aumentou diária de R$ 70 para R$ 6,3 mil
A recepção também foi redesenhada com decoração regional e elementos em madeira. A administração não revelou, porém, os valores investidos na adaptação da estrutura.
“[O nome] foi uma forma de mostrar que Belém está envolvida com o evento”, explica Alcides. “Não temos, claro, nenhuma relação com a cúpula”.
Ao todo, o hotel tem quartos distribuídos em três andares, acessíveis apenas por escadas.
Os quartos são pequenos, com cama de casal, cama de solteiro, armário, ar-condicionado e banheiro privativo.
Área da recepção do Hotel COP30.
Roberto Peixoto/g1
Durante a visita do g1, apenas dois quartos estavam disponíveis para exibição – o restante estava ocupado ou em manutenção.
No alto do prédio, um terraço também serve de espaço comum para refeições e lazer dos hóspedes.
No local, é servido café da manhã regional com tapioca e suco de cupuaçu. Para a semana da COP, a gerência promete reforçar a ambientação amazônica e incluir pratos típicos no almoço, como maniçoba e pato no tucupi.
“Vai estar tudo decorado com elementos regionais, matapi, painéis, artesanato”, afirma Alcides. “Queremos mostrar o que Belém tem de melhor.”
Hotel ainda não tem reservas para a COP
Apesar da visibilidade recente, Alcides reconhece que ainda não há reservas efetivas para a semana da cúpula no estabelecimento.
Segundo ele, a maioria das cotações recebidas até agora veio de estrangeiros interessados em alugar todos os 17 quartos de uma só vez.
Novos valores foram definidos pela administração do hotel.
Reprodução/Booking
“Colocamos no Booking para sentir como o mercado ia reagir”, afirma. “A gente percebeu que os valores estão muito desregulados, então fizemos o mesmo. Se tiver alguma diretriz oficial, a gente se adapta.”
O hotel, que fica a cerca de 30 minutos de carro do Parque do Povo, área onde vão ocorrer as principais negociações da COP30, também recebeu sondagens de embaixadas estrangeiras, segundo a administração.
“Se o governo disser que 300 dólares é o teto, a gente obedece. Mas ninguém falou nada até agora. Todo mundo quer aproveitar o momento e Belém também merece essa valorização”, afirma.
Belém prepara hospedagens alternativas para a COP30
Países pediram retirada do evento de Belém
Na quinta-feira (31), o presidente da COP 30, André Corrêa do Lago, afirmou que países têm pressionado o Brasil a transferir a conferência climática da ONU de Belém para outra cidade por causa do alto preço cobrado pelos hotéis da capital paraense durante o evento, previsto para novembro de 2025.
A declaração foi feita durante um encontro realizado pela Associação de Correspondentes Estrangeiros (AIE) em parceria com o IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás).
“Há uma sensação de revolta, sobretudo por parte dos países em desenvolvimento, que estão dizendo que não poderão vir à COP por causa dos preços extorsivos que estão sendo cobrados”, afirmou Corrêa do Lago.
Os esforços para conter a crise continuam, segundo o embaixador, mas ele avalia que parte do setor hoteleiro ainda não se deu conta da gravidade da situação.
Para Corrêa do Lago, o impasse ganhou outra dimensão após a entrevista do negociador africano Richard Muyungi à agência Reuters, na qual foi revelado que países chegaram a solicitar oficialmente a mudança da conferência para outra cidade.
O presidente da COP 30, o embaixador André Corrêa do Lago.
AP Photo/Adam Gray
“Ficou público que países estão pedindo para o Brasil tirar a COP de Belém”, acrescentou.
Ainda segundo ele, em alguns casos, o valor das diárias foi multiplicado por 15. A prática, considerada abusiva por representantes internacionais, tem gerado um mal-estar diplomático e já motivou pedidos formais para que o evento seja realocado.
“Se na maioria das cidades onde as COPs aconteceram os hotéis começaram a pedir o dobro ou o triplo do valor, no caso de Belém, os hotéis estão pedindo mais de 10 vezes os valores normais”, disse o diplomata.
Corrêa do Lago afirmou ainda que a Casa Civil coordena um grupo de trabalho para tentar conter os preços, mas ressaltou que a legislação brasileira não permite impor limites às tarifas da rede hoteleira.
“O que nos resta é o diálogo”, afirmou.
A COP 30 será a primeira conferência climática da ONU na Amazônia e deve reunir chefes de Estado, ministros, diplomatas e milhares de integrantes da sociedade civil de mais de 190 países.
Belém corre para deixar tudo pronto pra COP30
Preocupação da Onu
Desde o início desse ano, preocupações com a logística atrapalharam os preparativos para a COP30. Países em desenvolvimento e países ricos alertaram que não podem arcar com os preços de hospedagem em Belém, que dispararam devido à escassez de quartos.
Em uma reunião de emergência do “COP bureau” do órgão climático da ONU na terça-feira, o Brasil concordou em abordar as preocupações dos países sobre acomodações e apresentar um relatório em 11 de agosto, disse Richard Muyungi, presidente do Grupo Africano de Negociadores, que convocou a reunião.
“Recebemos a garantia de que revisitaremos isso no dia 11 para ter certeza se a acomodação será adequada para todos os delegados”, disse Muyungi à Reuters após a reunião.
Ele disse que os países africanos queriam evitar reduzir sua participação por causa do custo.
“Não estamos prontos para reduzir os números. O Brasil tem muitas opções em termos de ter uma COP melhor, uma boa COP. Por isso, estamos pressionando para que o Brasil forneça respostas melhores, em vez de nos dizer para limitar nossa delegação”, disse Muyungi.
Outro diplomata confirmou que a reclamações sobre os preços vieram tanto de países pobres quanto ricos.
Um relatório com os temas previstos para a reunião de terça-feira, acessado pela Reuters, confirmou que o encontro foi convocado para abordar “preparativos operacionais e logísticos para a Conferência sobre Mudanças Climáticas em Belém” e as preocupações do Grupo Africano de Negociadores sobre o assunto.
O Itamaraty não respondeu à reportagem. Autoridades brasileiras que organizam a cúpula têm garantido repetidamente que os países mais pobres terão acesso a acomodações que possam pagar.
Vila da COP30 vai receber vários chefes de Estado, em Belém.
Rodrigo Pinheiro/Agência Pará
Hotéis de navio e cruzeiro
O Brasil está correndo para expandir os 18 mil leitos de hotel normalmente disponíveis em Belém, uma cidade costeira de 1,3 milhão de habitantes, para receber as cerca de 45 mil pessoas previstas para participar da COP30.
O governo anunciou este mês que garantiu dois navios de cruzeiro para fornecer 6 mil camas extras para os delegados. Também abriu reservas para países em desenvolvimento para acomodações mais acessíveis, com diárias de até US$ 220.
No entanto, esse valor ainda está acima do “auxílio-moradia” oferecido pela ONU a algumas nações mais pobres para apoiar sua participação nas COPs. Para Belém, o valor é de US$ 149.
Dois diplomatas apresentaram orçamentos que receberam de hotéis e administradores de propriedades em Belém para tarifas de cerca de US$ 700 por pessoa por noite durante a COP30.
Autoridades de seis governos, incluindo nações europeias mais ricas, relatam que ainda não garantiram acomodações devido aos altos preços, e alguns disseram que estavam se preparando para reduzir sua participação.
Um porta-voz do governo holandês disse que pode ser necessário reduzir sua delegação pela metade em comparação às COPs recentes, quando a Holanda enviou cerca de 90 pessoas durante o evento de duas semanas, incluindo enviados, negociadores e representantes da juventude.
O vice-ministro do Clima da Polônia, Krzysztof Bolesta, disse à Reuters no início deste mês: “Não temos acomodações. Provavelmente teremos que reduzir a delegação ao mínimo.”
“Em um evento extremo, talvez não precisemos comparecer”, disse ele.