Uma semana após tarifaço de Trump, EUA ainda não deu sinais de que está disposto a negociar, dizem membros do governo

Uma semana após tarifaço de Trump, EUA ainda não deu sinais de que está disposto a negociar, dizem membros do governo


Presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, e o presidente dos EUA, Donald Trump.
Kazuhiro Nogi e Jim Watson/AFP
Integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) relataram nesta quarta-feira (16) à GloboNews que, uma semana após o anúncio dos Estados Unidos sobre a tarifa de 50% contra produtos brasileiros, o governo Donald Trump ainda não deu sinais de que quer abrir uma negociação formal sobre o tema.
O anúncio aconteceu no último dia 9, em uma carta de Trump endereçada a Lula na qual o presidente americano diz erroneamente que os Estados Unidos têm relação comercial deficitária (prejuízo) com o Brasil, enquanto, na verdade, os números demonstram que os EUA mais exportam que importam do Brasil em valor agregado.
De forma reservada, diplomatas avaliam que a ausência de negociações até este momento pode eventualmente ser explicada pela ausência de orientações claras da Casa Branca sobre como os órgãos diplomáticos e de comércio americanos devem agir em relação ao Brasil.
Desde que assumiu a Casa Branca, Trump tem anunciado uma série de tarifas sobre produtos importados vendidos nos EUA. Nesse contexto, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, conversou com chefe do USTR, órgão americano para o comércio exterior, Jamieson Greer.
Além disso, uma comitiva de diplomatas esteve em Washington, e o vice-presidente, Geraldo Alckmin, que também comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), conversou com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnik, para tentar negociar.
Em discursos e entrevistas após o anúncio da tarifa de 50%, Lula tem dito que o Brasil é um país soberano, não aceita ser tutelado por ninguém e quer negociar com os Estados Unidos. Entretanto, o petista também tem acrescentando que, se não houver consenso, o Brasil poderá:
adotar a chamada Lei da Reciprocidade Econômica, regulamentada nesta semana;
recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Entretanto, diante dessas declarações de Lula, empresários têm defendido que o Brasil não adote a reciprocidade e insista nas negociações.
Além disso, diplomatas avaliam que a OMC está paralisada e sem capacidade de agir e, mesmo que tome uma decisão, sem força para implementar. Diante disso, entendem que seria um gesto político, sem produzir sanções efetivas.
Nesse cenário, Lula já colocou que uma possibilidade seria o Brasil recorrer conjuntamente com outros países afetados pelo tarifaço.
‘Intromissão indevida’
Em um comunicado oficial divulgado nesta terça (15), o Ministério das Relações Exteriores disse “deplorar” e “rechaçar” o que chamou de “intromissão indevida” de autoridades americanas sobre o Brasil.
Essa foi a primeira manifestação oficial da chancelaria brasileira acerca do tema, marcando uma posição de maneira pública. Nas redes sociais, o ministério compartilhou publicações do presidente Lula sobre o tarifaço, incluindo uma imagem com a frase “Respeita o Brasil”.
“O governo brasileiro deplora e rechaça, mais uma vez, manifestações do Departamento de Estado norte-americano e da embaixada daquele país em Brasília que caracterizam nova intromissão indevida e inaceitável em assuntos de responsabilidade do Poder Judiciário brasileiro. Tais manifestações não condizem com os 200 anos da relação de respeito e amizade entre os dois países”, afirmou o Itamaraty.