Trump anunciou tarifaço após cúpula do Brics e pegou diplomacia do Brasil de surpresa; entenda

Representantes de 20 países se reuniram no Rio de Janeiro em um evento que provocou reações do presidente dos Estados Unidos. Taxação causou ‘perplexidade’ no Itamaraty. Donald Trump
WILL OLIVER/POOL/EPA/Shutterstock via BBC
A decisão de Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos foi anunciada dias depois da Cúpula do Brics, no Rio de Janeiro.
Representantes de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e outros 15 países participaram de reuniões na capital fluminense, nas quais o multilateralismo foi um dos termos mais utilizados pelos líderes.
Os participantes também discutiram temas como a cooperação entre os países do chamado Sul Global, parcerias para o desenvolvimento social, econômico e ambiental, e a busca por reformas no sistema de governança mundial para ampliar a participação de países emergentes
Além disso, houve a discussão sobre um sistema monetário mais autônomo em relação ao dólar, que foi interpretada pelos norte-americanos como uma ameaça à moeda estadunidense.
O evento no Rio provocou reações de Donald Trump que, no último domingo (6), ameaçou taxar “qualquer país que se alinhar às políticas antiamericanas do Brics” com uma tarifa adicional de 10%.
Três dias depois, nesta quarta-feira (9), o presidente dos Estados Unidos enviou uma carta para Lula e anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A nova taxa está prevista para entrar em vigor em 1º de agosto.
A medida pegou a diplomacia brasileira de “surpresa” e causou “perplexidade” no Itamaraty, que avalia não ter tomado atitudes que justifiquem o atrito comercial entre Brasil e Estados Unidos.
A Embaixada brasileira em Washington, por exemplo, foi informada da decisão apenas após o anúncio público de Trump.
Motivações ideológicas
Haddad diz que não vê ‘racionalidade econômica’ na decisão de Trump sobre tarifas
Especialistas afirmam que a imposição das tarifas por Trump tem natureza predominantemente política e ideológica.
A medida faz parte de uma estratégia, utilizada na campanha eleitoral de Trump, com o objetivo de reforçar seu discurso de proteção à indústria americana.
A carta de Donald Trump sobre as tarifas enviada ao presidente Lula tem referências a uma suposta “perseguição” ao ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados pela Justiça brasileira.
Bolsonaro é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. Além disso, em dois julgamentos de 2023, o Tribunal Superior Eleitoral tornou o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível por 8 anos, em razão de abuso de poder político e uso indevido de meios de comunicação.
A carta de Trump também menciona ainda “censura” contra empresas de tecnologia no Brasil.
Reações
Diante do anúncio de Trump, o Itamaraty convocou o representante diplomático dos Estados Unidos no Brasil para pedir explicações sobre a medida.
Ao diplomata norte-americano, o governo brasileiro disse que a carta de Trump era ofensiva e inaceitável. O documento, então, foi devolvido ao representante dos Estados Unidos.
Além disso, ministros do governo brasileiro, como Fernando Haddad, expressaram publicamente que não viam uma “racionalidade econômica” na decisão de Trump, classificando-a como uma decisão política.
Segundo o ministro da Casa Civil, Rui Costa, o governo brasileiro vai criar um grupo de trabalho para estudar eventual retaliação à tarifa de 50% sobre as exportações do Brasil para os Estados Unidos.
De acordo com Rui Costa, esse grupo também vai ficar responsável por estudar novos mercados – uma forma de compensar ao menos parte das perdas da tarifa, se ela for mantida.
Os canais diplomáticos também continuarão abertos e o governo brasileiro vai negociar até o dia 1º de agosto.
Infográfico – Entenda taxa de 50% anunciada por Trump ao Brasil e a relação econômica com os EUA.
Arte/g1