Trama golpista: STF marca interrogatório de sete réus para a próxima semana
A ação penal contra um dos núcleos da trama golpista vai avançar para mais uma fase a partir da semana que vem, no Supremo Tribunal Federal: o interrogatório dos réus.
Os acusados serão ouvidos no dia 24 de julho, pela manhã. A intimação dos advogados para o novo ato processual foi feita nesta quarta-feira (16), após a conclusão das audiências das testemunhas de defesa.
Vão ser interrogados os réus do núcleo 4, das operações estratégicas de desinformação.
Os sete integrantes deste grupo são acusados de propagar notícias falsas sobre o processo eleitoral, além de realizar ataques virtuais a instituições e autoridades que ameaçavam os interesses do grupo.
“Todos estavam cientes do plano maior da organização e da eficácia de suas ações para a promoção de instabilidade social e consumação da ruptura institucional”, afirmou a PGR.
O núcleo é composto por:
Ailton Gonçalves Moraes Barros, ex-major do Exército;
Ângelo Martins Denicoli, major da reserva do Exército;
Carlos César Moretzsohn Rocha, engenheiro e presidente do Instituto Voto Legal;
Giancarlo Gomes Rodrigues, subtenente do Exército;
Guilherme Marques de Almeida, tenente-coronel do Exército;
Marcelo Araújo Bormevet, agente da Polícia Federal e ex-membro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
Reginaldo Vieira de Abreu, coronel da reserva do Exército.
Crimes
Eles respondem pelos seguintes crimes:
abolição violenta do Estado Democrático de Direito: pena varia de 4 a 8 anos de prisão.
golpe de Estado: pena de 4 a 12 anos.
organização criminosa: pena de 3 a 8 anos.
dano qualificado: pena de seis meses a três anos.
deterioração de patrimônio tombado: pena de um a três anos.
O que diz a PGR
Entenda as acusações da PGR sobre cada um deles:
Ailton Barros
Quem é: ex-major do Exército;
O que diz a PGR: a PGR relata trocas de mensagens entre o ex-militar e Braga Netto. No diálogo, o general o orienta a atacar o comandante da Aeronáutica, Baptista-Júnior, e a elogiar o almirante Almir Garnier. Há também conversa em que Ailton Barros promete “manter pressão sobre Freire Gomes”, comandante do Exército. Ele também teria recebido orientação de Braga Netto para disseminar informações falsas contra o general Tomás Paiva.
Ângelo Denicoli
Quem é: major da reserva do Exército;
O que diz a PGR: de acordo com a PGR, teve papel na preparação de material com notícias falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro. Segundo Cid, ele “integrava um grupo de pessoas empenhadas em encontrar fraudes nas urnas eletrônicas”.
Carlos Rocha
Quem é: engenheiro e presidente do Instituto Voto Legal;
O que diz a PGR: presidiu o Instituto Voto Legal, contratado pelo PL para prestar serviços de auditoria do funcionamento das urnas eletrônicas. O IVL elaborou um relatório que foi a base de uma representação do partido no Tribunal Superior Eleitoral que pedia a verificação da votação das eleições presidenciais de 2022.
Giancarlo Rodrigues
Quem é: subtenente do Exército;
O que diz a PGR: segundo a PGR, faria parte da chamada Abin Paralela, estrutura que atuava como ” como central de contrainteligência da organização criminosa que, por meio dos recursos e ferramentas de pesquisa da ABIN, produzia desinformação contra seus opositores”. Neste contexto, realizou pesquisas de opositores no sistema First Mile, com o objetivo de uso político.
Guilherme Marques de Almeida
Quem é: tenente-coronel do Exército;
O que diz a PGR: trocou mensagens com Mauro Cid – nelas, enviou links de transmissões que citariam uma suposta fraude nas urnas eletrônicas. “O objetivo do militar, claramente, era o de ampliar, propagar e diversificar as opções de acesso ao conteúdo falso sobre a apuração das eleições no Brasil”, disse a Procuradoria. Ainda no relato da PGR, “as mensagens identificadas revelaram que o militar, valendo-se de seus conhecimentos especiais, desempenhava, na organização criminosa, o papel necessário de criar e propagar, em larga escala, conteúdos espúrios sobre o Poder Judiciário e as eleições brasileiras, com o intuito de perpetuar o sentimento de desconfiança popular contra os poderes constitucionais”.
Marcelo Bormevet
Quem é: agente da Polícia Federal e ex-membro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
O que diz a PGR: também integrava a estrutura da Abin paralela, sob o comando do então diretor-geral Alexandre Ramagem. Em troca de mensagens com Giancarlo Rodrigues, Bormevet indicava alvos a serem pesquisados no sistema First Mile. “Os nomes levantados nas conversas claramente não partiam de decisões estratégicas de Estado ou do trabalho regular na Agência Brasileira de Inteligência”, disse a PGR.
Reginaldo Vieira de Abreu
Quem é: coronel da reserva do Exército;
O que diz a PGR: as investigações apontaram a participação dele na tentativa de manipulação do conteúdo do relatório das Forças Armadas sobre o sistema eleitoral. Mensagens encontradas pela PF demonstram que ele atuou para “alinhar” o conteúdo do relatório com dados falsos sobre as urnas eletrônicas. Chegou a sugerir que o ex-presidente Bolsonaro fizesse “uma reunião apenas com o grupo disposto a atuar à margem da legalidade e da moralidade, os que denominou de ‘rataria’, excluindo o ‘pessoal acima da linha da ética'”.