Tilápia vai ficar mais barata no Brasil por causa do tarifaço?

Peixe tipo tilápia é considerado uma opção mais acessível aos clientes
Reprodução/TV TEM
A tilápia está entre os alimentos alvos da tarifa de 50% imposta por Donald Trump sobre as vendas brasileiras para os Estados Unidos. A medida entra em vigor no dia 6 de agosto.
➡️ Mas, afinal, o tarifaço vai afetar o consumidor brasileiro? Não diretamente. A sobretaxa será paga por empresas dos EUA que comprarem produtos feitos no Brasil. E, para alguns desses itens, encaixados numa lista de exceções, ela será de 10%, e não 50%.
📱Baixe o app do g1 para ver notícias em tempo real e de graça
Indiretamente, porém, pode existir um impacto no supermercado. Se os compradores americanos não quiserem pagar a mais pelos alimentos brasileiros, uma queda nas vendas para os EUA poderia afetar os produtores. Por consequência, o tarifaço reforçaria tendências já em andamento nos valores do Brasil.
Economistas e especialistas ouvidos pelo g1 apontam que, se as vendas de tilápias aos EUA forem paralisadas, deve sobrar o peixe no Brasil, fazendo os preços caírem.
Isso porque o setor depende muito das vendas para o mercado norte-americano e teria que redirecionar o produto que sobrar para o mercado interno.
Saiba também: Tarifaço pode encarecer ou baratear o preço dos alimentos no Brasil?
Mais tilápia nos supermercados
A tilápia é o peixe brasileiro mais exportado, e o principal mercado comprador são os EUA, que são o destino de 90% do volume vendido para o exterior. É uma dependência muito maior do que a da carne e do café, que têm outros mercados importantes além dos EUA.
Com a taxa de 50% imposta pelos norte-americanos, a produção deve ser redirecionada para o consumo interno, o que tende a ampliar a oferta e pressionar os preços para baixo, segundo Francisco Medeiros, presidente da Associação Brasileira de Piscicultura (PeixeBR).
Essa projeção é reforçada pelo fato de o setor já atravessar um período de retração nas vendas no Brasil, consequência da menor procura depois da Semana Santa e da chegada do inverno, explica Matheus Do Ville Liasch, analista de mercado do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP).
Apesar da expectativa de queda no curto prazo, ele acredita que o repasse ao consumidor deve ser lento e imprevisível.
“O efeito sobre os preços será gradual: primeiro o produtor reduzirá o valor, depois os frigoríficos, e, só então, varejistas e atacadistas”, afirma.
Para a indústria, contudo, o cenário é motivo de preocupação. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca), Eduardo Lobo, alerta que absorver o volume destinado aos EUA no mercado doméstico não é viável economicamente.
“O mercado interno já é abastecido com uma produção muito grande, e colocar o que era destinado à exportação nele faria o preço ficar ‘inexequível’, quebrando a cadeia produtiva”, afirma.
Além disso, Lobo prevê que, a médio e longo prazo, a taxação americana pode até encarecer o produto para os brasileiros. “A tarifa tende a frear a produção e, nesse contexto, qualquer aumento de demanda poderia elevar o preço”, conclui.
Leia também:
Suco de laranja escapa do tarifaço de 50% e fica com taxa de 10%
Os países que poderiam substituir os EUA como clientes do agro brasileiro
Raio X da exportação
arte g1
Qual é a diferença entre fome e insegurança alimentar