Tarifaço de Trump: EUA são maiores produtores de etanol do mundo, mas precisam do Brasil para cumprir metas de redução de poluentes

EUA são segundo maior destino do etanol brasileiro, depois Coreia do Sul, mas indústria nacional já vinha buscando outros mercados. Usina de etanol e açúcar em Pitangueiras, SP
Jefferson Severiano Neves/EPTV
Os Estados Unidos são o segundo maior comprador do etanol brasileiro, depois da Coreia do Sul, mas com a taxação de 50% que Donald Trump impôs ao Brasil, o biocombustível nacional vai perder espaço.
“A tarifa pode representar um acréscimo de US$ 200 a US$ 250 por mil litros, tornando o etanol brasileiro praticamente não competitivo no mercado americano”, diz Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócios.
➡️ Mas não é que vai faltar etanol nos EUA. Eles são os maiores produtores globais do biocombustível – o Brasil é o segundo – e, por lá, o produto até sobra.
Mas eles precisam importar o etanol brasileiro – que é menos poluente – para cumprir metas de redução de gases de efeitos de estufa de programas federais e estaduais, e ganharem créditos por isso (entenda abaixo).
Hoje, 70% do etanol importado pelos EUA é produzido no Brasil.
O g1 procurou a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) para entender quais serão os impactos aos produtores do Brasil, mas a entidade disse que ainda estuda a medida.
Em uma entrevista concedida ao g1, em maio, o presidente da associação, Evandro Gussi, disse que o Brasil já vinha se voltando a outros mercados, como a própria Coreia do Sul, além do Japão, que vem construindo uma política pública de mistura de etanol na gasolina.
🔎O importador americano paga, tradicionalmente, 2,5% para comprar o etanol brasileiro. Em abril, Trump impôs uma tarifa de 10% a todos os produtos nacionais, o que fez essa taxa subir para 12,5%. Mas, a partir de 1º de agosto, os importadores devem começar a pagar 52,5% pelo bicombustível brasileiro.
Por que os EUA compram etanol do Brasil?
“Os EUA têm programas de incentivo aos biocombustíveis, tanto a nível nacional, como o Renewable Fuel Standard, quanto estaduais, como é o caso da Califórnia”, explica o analista da StoneX Brasil Marcelo Di Bonifacio Filho.
E o etanol brasileiro é considerado mais sustentável em relação ao americano. E isso acontece por vários motivos, segundo o presidente da Unica.
Um deles é que a indústria brasileira usa o bagaço da própria cana-de-açúcar para produzir energia elétrica e vapor dentro das usinas, o que gera uma emissão de dióxido de carbono (CO2) muito menor em relação ao gás natural e à rede elétrica que abastece as usinas dos EUA.
Segundi a Unica, o etanol brasileiro emite 21 gramas de CO2 (dióxido de carbono) por megajoule de energia, enquanto o americano emite 60 gramas.
Como o etanol deve encarecer muito para o americano, a tendência é que eles importem menos e deixem de cumprir metas de descarbonização.
Até porque não existe outro país que produz etanol com baixa emissão de poluentes como o Brasil, diz o presidente da StoneX Brasil.
“Esse cenário vai resultar em uma menor remuneração para os participantes no mercado americano que dependem desses programas de incentivo a biocombustíveis”, diz Filho.
“O setor que mais vai perder nos EUA é o programa nacional de incentivo aos biocombustíveis”, acrescenta.
Brasil busca outros mercados
Antes das tarifas, a indústria de etanol já vinha se atentando a outros mercados. Um deles é o Japão, que vem construindo uma política pública para misturar etanol na gasolina.
“O Japão decidiu misturar 10% de etanol na gasolina até 2030 e 20% até 2040. Essa decisão foi tomada porque, após estudos, o etanol foi considerado uma solução pronta, barata, rápida e eficaz para descarbonizar o transporte, entre as várias opções disponíveis”, explicou Gussi.
“As exportações efetivas de etanol brasileiro para o Japão devem começar dentro de poucos anos, quando a mistura na gasolina de fato acontecer”, disse.
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