Tarifaço: apesar de desejo de Lula, governo considera difícil acertar resposta conjunta do Brics

Tarifaço: Lula conversa com primeiro-ministro da Índia, país também taxado em 50% e integrante do Brics
Integrantes do governo Lula consideram difícil que os países do Brics consigam adotar uma resposta conjunta diante do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter afirmado que deseja discutir com os demais parceiros do Brics a guerra tarifária em curso, fontes do governo entendem que o tamanho do bloco e a situação de cada país em relação aos EUA dificultam uma posição conjunta.
🔎O Brics atualmente é formado por 10 países: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã – Arábia Saudita participa das reuniões, mas não aderiu formalmente ao bloco.
O Brasil, por exemplo, teve a importação de seus produtos para os EUA sobretaxada em 50%. A Índia está com uma tarifa de 25%, que será ampliada para 50% devido ao comércio do país com a Rússia.
A Indonésia, que entrou recentemente no Brics, foi sobretaxada em 19%, enquanto a China está sujeita a um regime tarifário separado e poderá enfrentar um novo aumento de tarifas na próxima semana, caso Trump não estenda a trégua firmada anteriormente.
Lula e Narendra Modi durante o encontro do G20, no Rio de Janeiro
Governo do Brasil
Conversas com líderes
Lula afirmou em entrevista à agência de notícias Reuters que conversará sobre as tarifas com os demais líderes do Brics.
Na quinta-feira (7), Lula tratou do tema por telefone com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e pretende falar com o presidente da China, Xi Jinping. O governo também avalia ligações para líderes de outros membros do bloco.
“Vou tentar fazer uma discussão com eles sobre como cada um está dentro da situação, qual é a implicação que tem em cada país, para a gente poder tomar uma decisão”, disse Lula na entrevista.
O Brasil está na presidência do Brics e passará o comando rotativo do bloco para a Índia a partir de janeiro de 2026.
Negociações individuais
Fontes do governo Lula destacam que, mesmo com as críticas que faz ao Brics, Trump não impôs uma taxa específica para os integrantes do bloco de países do hemisfério sul.
Avaliam também que cada país traçou sua própria estratégia para lidar com o tarifaço e nem todos os integrantes do bloco estão dispostos a criticar Trump como Lula tem feito. Os graus de dependência da economia norte-americana também variam de país para país.
Essas divergências dificultam uma posição conjunta do Brics que vá além de declarações de defesa do multilateralismo e da Organização Mundial do Comércio (OMC).
No caso brasileiro, há um diferencial na comparação com outros países: o tarifaço extrapola o campo comercial porque Trump tentar interferir no Supremo Tribunal Federal (STF) para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu por tentativa de golpe e que atualmente está em prisão domiciliar.
Lula considerada a interferência no Judiciário um ataque à soberania do país. Auxiliares do presidente também entendem que, no momento, não há disposição real de Trump em negociar redução da sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros.
Integrantes do governo acreditam que a estratégia continua sendo insistir em uma negociação focada no comércio com os EUA e buscar novos mercados para produtos brasileiros com parceiros do Brics, como a Índia, e de fora do bloco, a exemplo de México e Canadá.
A estratégia visa diminuir a dependência das exportações para os EUA. Nesse sentido, o vice-presidente e ministro da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin (PSB), foi encarregado por Lula de liderar missões de ministros e empresários ao México, neste mês, e à Índia, em outubro.