STF encerra interrogatórios dos réus da tentativa de golpe: veja principais falas

O Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu nesta terça-feira (10) os interrogatórios dos oito réus apontados como integrantes do núcleo central da tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
Os depoimentos fazem parte da ação penal que investiga uma articulação para manter Jair Bolsonaro no poder, mesmo após a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva.
Confira os principais pontos da fala de cada um:
Jair Bolsonaro (ex-presidente)
No depoimento mais aguardado, Bolsonaro negou que tenha havido qualquer plano de golpe. Disse que, em nenhum momento, foi ameaçado de prisão, e que as Forças Armadas jamais aceitariam cumprir ordens ilegais.
Admitiu, no entanto, que manteve reuniões com militares para discutir possíveis alternativas legais após a derrota no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas que tudo foi descartado rapidamente.
“Era uma conversa informal para ver se existia alguma hipótese de um dispositivo constitucional para a gente atingir o objetivo que não foi atingido no TSE”, afirmou.
Sobre a chamada “minuta do golpe”, encontrada com Anderson Torres, Bolsonaro alegou que apenas viu o texto rapidamente numa tela, sem se envolver com sua elaboração.
“Não escrevi, não alterei, não digitei nada. Não tenho responsabilidade sobre essa minuta.” Ele também pediu desculpas a Moraes por ter insinuado que ministros do STF receberiam propina: “Não tem indícios nenhum, senhor ministro. Me desculpe”.
Bolsonaro negou qualquer envolvimento com os acampamentos e as manifestações golpistas após as eleições. Disse que jamais incentivou protestos ilegais e que classificava como “malucos” os que pediam um novo AI-5. “Deixa o pessoal desabafar”, minimizou, ao justificar sua postura de não desmobilizar os manifestantes.
Mauro Cid (ex-ajudante de ordens e delator)
O tenente-coronel Mauro Cid foi o primeiro a depor e confirmou a veracidade da denúncia da PGR. Ele relatou que presenciou vários momentos em que Bolsonaro discutia formas de anular o resultado eleitoral, incluindo a sugestão de alterações na minuta que previa a prisão de autoridades.
Segundo ele, Bolsonaro pediu a retirada dos nomes, mas manteve a prisão de Moraes no texto.
Cid afirmou que o ex-presidente pressionou o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, por um relatório crítico às urnas. Disse que Bolsonaro queria um parecer “duro” contra o sistema eleitoral, o que, na visão da PGR, compõe o conjunto de medidas da trama para romper com a ordem democrática.
Também disse que não foi coagido e reafirmou os termos do acordo de delação premiada.
Alexandre Ramagem (deputado e ex-diretor da Abin)
Ramagem afirmou que nunca participou de articulações para um golpe de Estado. Negou ter feito qualquer uso político da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ou produzido documentos falsos. Disse que um relatório feito por ele sobre as eleições era apenas um rascunho pessoal, sem objetivo de ser entregue a Bolsonaro.
Ramagem, no entanto, é acusado de ter mantido uma “Abin paralela” voltada à espionagem de autoridades, o que ele rechaçou categoricamente. “Decerto que não fiz monitoramento de autoridades”, declarou. Ele também disse que não tinha qualquer informação sobre movimentações ilegais envolvendo as Forças Armadas ou integrantes do governo.
Anderson Torres (ex-ministro da Justiça)
Torres alegou que a minuta do golpe encontrada em sua casa era um documento descartado, sem validade jurídica. Disse que nunca discutiu o texto com Bolsonaro e que a peça não passou de uma proposta levada por terceiros. A PGR, porém, aponta que ele foi um dos principais operadores do plano golpista.
Durante o interrogatório, Torres buscou se distanciar dos atos de 8 de janeiro. Alegou que não compactuou com as invasões e que não havia elementos que justificassem sua responsabilização. A defesa insistiu na tese de que ele ficou em silêncio durante os acontecimentos mais graves e que sua ausência não pode ser vista como cumplicidade.
Augusto Heleno (ex-ministro do GSI)
Heleno respondeu apenas a perguntas da defesa, e seu interrogatório foi marcado por repreensões do próprio advogado, que exigia respostas curtas e objetivas. Ele negou ter coordenado ações da Abin para produção de relatórios falsos ou ter tido conhecimento de qualquer plano de golpe.
Disse também que, após a eleição, não participou de nenhuma reunião com conteúdo conspiratório.
“De maneira nenhuma. Não havia clima”, respondeu, ao negar manipulações internas na Abin. Quando questionado sobre o plano golpista, Heleno foi enfático: “Não”.
A sessão teve momentos de descontração, como quando o advogado o interrompeu, e Heleno respondeu com um “Porra, desculpa”, arrancando risos.
Almir Garnier (ex-comandante da Marinha)
Garnier foi apontado por delatores como o único chefe das Forças Armadas disposto a aderir a uma ruptura democrática. No entanto, em seu depoimento, negou ter tratado de qualquer plano de golpe. Disse que não houve reunião conspiratória no Alvorada e que a atuação das Forças esteve sempre dentro da legalidade.
Questionado sobre documentos e mensagens apreendidos, Garnier alegou que não se lembra de ter participado das conversas mencionadas. Afirmou que não recebeu ordens ilegais e que sua gestão se manteve fiel à Constituição.
Walter Braga Netto (ex-ministro e candidato a vice)
O general Braga Netto negou que tenha comandado ataques aos chefes militares que se recusaram a aderir ao golpe. “Jamais ordenei ou coordenei ataques a nenhum dos chefes militares”, disse. Segundo ele, as mensagens que apareceram no inquérito foram “descontextualizadas” e não têm ligação com atos de pressão.
Questionado sobre uma suposta entrega de dinheiro em caixa de vinho aos chamados “militares kids pretos”, Braga Netto disse que acreditava ser verba de campanha. Também negou qualquer relação com planos de assassinato de autoridades, como Lula e Moraes. “Eu nunca tinha ouvido falar dessas duas operações”, afirmou, referindo-se às ações “Punhal Verde e Amarelo” e “Copa 2022”.
Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa)
Nogueira pediu desculpas a Moraes pelas falas feitas em 2022 contra o TSE, que classificou como inadequadas. Disse que ainda estava em transição do Exército para o Ministério da Defesa e que suas declarações foram “mal colocadas”. “O TSE não era inimigo. Hoje, não teria feito aquela nota”, disse, em referência a comunicado divulgado após críticas ao sistema eleitoral.
Sobre a minuta do golpe, Nogueira negou conhecimento e disse nunca ter recebido o documento. Também afirmou que não levou o relatório das Forças Armadas sobre o processo eleitoral ao presidente. “O presidente da República jamais me pressionou”, declarou.