Preço da carne bovina deve encarecer em 2026 com menos boi no campo

Exportações de frango devem voltar a crescer à medida que os países suspenderem os embargos após gripe aviária, diz Itaú BBA. Veja também as previsões para arroz e café. Preço da carne bovina tende a subir em 2026, devido a uma menor oferta de animais no campo
Emerson Vieira/Unplash
O preço da carne bovina deve continuar alto para o consumidor em 2025 e subir mais em 2026. Isso porque a quantidade de gado disponível para abate no Brasil tende a diminuir, principalmente no próximo ano.
Essa é uma das previsões feitas por analistas da Consultoria Agro do Itaú BBA durante um evento para a imprensa, na última quinta-feira (3).
Eles também apontam que o frango deve voltar a bater recordes de exportação, mesmo com bloqueios feitos em virtude do primeiro caso de gripe aviária em granja comercial, em maio.
O país se declarou livre da doença quase um mês depois do caso, e os mercados internacionais já começam a retomar as compras.
Já o preço do arroz vai continuar caindo. Com estoques elevados no Brasil e produção recorde no mundo, a inflação do alimento diminuiu 12%, em 12 meses até maio, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O café continua caro nos supermercados, mas, no campo, os preços começaram a cair após o início da colheita, em março. Apesar disso, a tendência é de que haja uma demora para essa baixa de preços chegar ao consumidor.
Entenda a seguir o que está por trás das variações e como isso afeta o seu bolso.
Carne bovina
A inflação das carnes, em geral, acumula alta de 23% nos 12 meses encerrados em maio, segundo o IBGE. O contrafilé, por exemplo, ficou 24% mais caro, no mesmo período.
“Desde agosto do ano passado, a alta do boi gordo tem sido integralmente repassada para o preço da carne, tanto no mercado interno quanto nas exportações”, comentou Cesar de Castro Alves, gerente de Consultoria Agro do Itaú BBA.
A princípio, o banco prevê que a produção de carne bovina deve cair 1%, mas isso pode não se concretizar.
Isso porque ainda tem muitos animais no campo disponíveis para abate. Além disso, espera-se que, no segundo semestre, haja um aumento de bois confinados, que, posteriormente, serão direcionados para a produção de carne.
Já para 2026, a tendência é de redução na oferta de animais, o que vai contribuir para uma alta de preços ao consumidor.
Isso também será um reflexo da conjuntura internacional. Nos Estados Unidos, maior produtor mundial de carne bovina, a oferta deve cair 2,3% em 2025 e 4,1% em 2026.
“Ou seja, em 2026, quando o Brasil deverá ter oferta de gado para abate ainda menor, os EUA também estarão com disponibilidade bastante restrita, o que reforça a expectativa de preços em elevação”, destaca Alves.
Frango
Apesar da gripe aviária, as exportações de frango devem continuar crescendo em 2025, segundo Alves. Para ele, isso se deve à rápida resposta do setor para conter a crise e por não terem surgido novos casos da doença no país.
Antes de os países compradores aplicarem embargos ao frango brasileiro por causa do foco da doença em Montenegro (RS), as exportações de frango cresceram 5% entre janeiro e maio deste ano, em relação a igual período de 2024.
Depois do anúncio do caso e do início dos bloqueios, as vendas caíram 13,4%, em maio, e 21,6% até a terceira semana de junho, sempre na comparação contra o mesmo período do ano passado.
“A carne que não foi exportada, obviamente, está pesando aqui dentro. Isso fez os preços caírem [no atacado]”, diz Alves.
Segundo um levantamento do Itaú BBA, a inflação do frango no atacado caiu 16%, entre o dia 16 de maio e 30 de junho.
Mas essa queda deve ser temporária. Isso porque, como não apareceram novos casos da gripe aviária, alguns mercados já estão comprando novamente o frango brasileiro.
Arroz
Nos 12 meses até maio, o preço do arroz caiu 12% para o consumidor.
Para o produtor, a queda foi maior: em junho, a saca de 50 kg ficou 41% mais barata, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea – USP).
A principal razão para a desvalorização do cereal é a oferta global recorde, diz a analista do Itaú BBA Marina Maragon. A safra 2025/2026 é estimada em 542 milhões de toneladas, 0,1% a mais do que na anterior.
Entre os países produtores, a Índia se destaca, alcançando um novo recorde histórico de produção pelo 10° ano consecutivo.
Mas outros países também vão ter boas produções, como EUA, Bangladesh, Burma, Filipinas e membros do Mercosul. Tudo isso deixa o mercado de exportação acirrado para o arroz nacional.
No Brasil, a safra 2024/2025 é a maior dos últimos 8 anos, com uma produção estimada em 12,15 milhões de toneladas, um crescimento de 14,9% em relação à safra anterior. Isso acontece, principalmente, pelo aumento da área cultivada e da produtividade.
Com esta safra, os estoques estão elevados. Segundo Maragon, apesar de o governo ter falado em um aumento dos estoques públicos para escoar essa produção e melhorar os preços ao arroz, ainda não foram tomadas ações concretas.
Por todos esses motivos, os produtores tendem a investir menos na safra 2025/2026.
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Café
O preço do café vem caindo no campo, mas ainda deve demorar para se refletir na conta do supermercado.
A baixa dos preços para o produtor está sendo puxada pela expectativa de aumento da safra do café do tipo robusta.
“Além da maior resistência da planta, alguns episódios de chuvas em agosto, no Espírito Santo, aliviaram a condição do solo e possibilitaram um pegamento normal das floradas”, diz Alves.
Já a safra de café do tipo arábica deve ser menor, uma vez que a seca no ano passado prejudicou a florada e, consequentemente, o nascimento dos frutos.
Apesar disso, a colheita de robusta tende a compensar e, no total, a produção de café do Brasil deve crescer 0,5% nesta safra.
Outro fator que tende a sustentar a queda dos preços no campo é que outros grandes produtores de café, como o Vietnã e a Indonésia, também terão aumento de produção.
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