Países amazônicos pedem cooperação e que a região fique ‘livre de ameaças, agressões e medidas unilaterais’

Lula diz que países ricos usam combate ao crime como ‘pretexto para violar soberania’
A declaração final da cúpula de líderes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) realizada na Colômbia destaca a “urgência” para que a região seja “livre de ameaças, agressões e medidas unilaterais, inclusive as coercitivas”.
A declaração ocorre em um momento em que os Estados Unidos enviaram embarcações de guerra para a região do Caribe, próximo da Venezuela – o litoral de parte dos países amazônicos é banhado pelo Mar do Caribe.
Como justificativa para o envio, os EUA argumentaram que a presença militar na região visa combater ameaças de cartéis de drogas latino-americanos. As embarcações estão em águas internacionais, porém o movimento desagradou governos de países da região.
O governo brasileiro articulou com os outros países a inclusão de capítulos sobre as estratégias de segurança na Amazônia na declaração.
Segundo fontes do governo Lula, é uma maneira de demarcar a posição do bloco, sem a necessidade de uma menção explícita, sobre a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump.
A declaração foi acertada pelos países da OTCA, cuja cúpula de líderes foi realizada nesta sexta-feira (22) na capital colombiana, Bogotá.
O presidente Lula durante declaração Cúpula de Países Amazônicos nesta sexta-feira (22) em Bogotá
Ricardo Stuckert/Presidência da República
Lula crítica países ricos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou do encontro ao lado dos presidentes da Bolívia, Luis Arce, e da Colômbia, Gustavo Petro, além de representantes de Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.
Durante o evento, Lula afirmou que os países ricos usam o combate ao crime organizado como “pretexto para violar soberania” de países menos desenvolvidos e utilizam a luta contra o desmatamento como “justificativa para medidas protecionistas”.
A declaração dos países afirma ainda que os líderes da OTCA estão “conscientes da urgência de continuar a implementar plena e efetivamente as decisões políticas consagradas” dois anos atrás na cúpula de Belém, no Pará.
“Por meio de uma agenda de solidariedade cooperativa que respeite a soberania e a jurisdição dos Estados-membros, fortalecendo as capacidades nacionais e coordenando esforços para proteger a Amazônia e garantir os direitos de seus povos”, afirmaram os líderes.
Fundo para florestas
A declaração final também apoiou a criação pelo Brasil do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF na sigla em inglês). O lançamento está previsto para novembro, em Belém, durante a conferência do clima das Nações Unidas, a COP 30.
O fundo captará recursos de países, empresas e entidades para financiar ações dos países em desenvolvimento que conservarem suas florestas, entre as quais a amazônica.
Lula cobra desde o começo do terceiro mandato que países mais ricos cumpram com as doações acertadas financiar ações de preservação ambiental, transição energética e desenvolvimento sustentável.
Na declaração desta sexta, os países da OTCA incentivaram os “potenciais países investidores a anunciar contribuições substantivas” para o fundo.
A nota da OTCA também reafirmou o compromisso com o sucesso da COP 30 e o trabalho conjunto por resultados que respondam as “prioridades comuns” dos países amazônicos.