Na guerra do IOF, governo revida ataque do Congresso e Lula dobra aposta, mas agora promete abaixar armas

Um ministro disse que agora é a hora da política, depois de a AGU ter tratado a febre com dipirona, mas a cura das rusgas depende de antibióticos. Lula e Haddad durante o lançamento do Plano Safra 2024/2025 da Agricultura Familiar em 3 de julho de 2024
WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
Na guerra do IOF, o governo Lula decidiu revidar o ataque do Congresso Nacional e lançou seu míssil recorrendo ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), informados com antecedência, ficaram aborrecidos e esperavam que o governo não fosse ao STF. O presidente do Senado, inclusive, chegou a mandar recados ao presidente Lula aconselhando-o a não entrar no Supremo.
Lula não só rejeitou o conselho, como está dobrando a aposta. “Cada macaco no seu galho”, disse nesta quarta-feira (2) na Bahia, ao defender sua decisão de entrar no STF.
Ele ainda insistiu e subiu o tom no discurso dos “ricos contra os pobres”, afirmando que os interesses de poucos prevalecem sobre o de muitos no Congresso.
Lula defende judicialização do IOF e nega rivalidade com Congresso
Agora, como tem muito a perder, a equipe de Lula enviou sinais ao longo do dia de ontem sinalizando que deseja paz e retomar os diálogos.
Um assessor de Lula admite, porém, que é preciso dar tempo a Alcolumbre e Hugo Motta. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), disse que, assim que Hugo Motta retornar de Lisboa, ele e a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, vão procurá-lo.
No caso de Alcolumbre, como ele decidiu ficar no Brasil, aliados de Lula queriam já ter conversas iniciais com ele ontem mesmo.
“É preciso fazer a política entrar em campo”, diz um ministro. “Mas não basta apenas conversa, é preciso resolver problemas que estão incomodando os dois”, diz outro assessor de Lula. Traduzindo, o que eles estão reivindicando dentro do governo.
David Alcolumbre, presidente do Senado, e Hugo Motta, presidente da Câmara, participam de uma coletiva de imprensa após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio da Alvorada, em Brasília, em 3 de junho de 2025
Reuters/Adriano Machado
No caso de Alcolumbre, o Palácio do Planalto já sabe alguns desses “problemas”.
O presidente do Senado não esconde do governo que gostaria que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, fosse demitido. Além disso, destravar nomeações de apadrinhados dele para a Aneel.
Se o governo Lula, agora, quer um armistício, aliados de Davi Alcolumbre e de Hugo Motta não querem, de forma alguma, baixar as armas.
Do lado da oposição, então, os líderes seguem pintados para a guerra. De partidos como PP, União Brasil e Republicanos, o desejo é de manter o governo acuado, impondo novas derrotas.
Há espaço para negociação no PSD. Se o clima continuar ruim e não houver recuo do Centrão, assessores de Lula defendem que o presidente faça acenos mais fortes para o PSD e MDB, buscando um número mínimo de apoio para aprovar medidas provisórias e projetos de lei dentro do Legislativo.