Menor variedade, preços mais altos: como as tarifas de Trump já prejudicam o Natal nos EUA

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Com o verão em pleno andamento nos Estados Unidos, executivos do varejo já estão de olho em outra estação. Faltam menos de 22 semanas para o Natal — período em que empresas que fabricam e vendem bens de consumo costumam definir seus pedidos e preços para as festas.
No entanto, as políticas comerciais do presidente Donald Trump — parte de seu esforço para revitalizar a indústria nacional e reduzir o déficit comercial dos EUA — complicaram os planos para o fim de ano.
A Balsam Hill, que vende árvores artificiais e outras decorações online, prevê catálogos de Natal mais enxutos, já que os produtos destacados mudam constantemente com as tarifas que o presidente impõe, adia ou revisa.
“A incerteza nos fez gastar todo o nosso tempo tentando reorganizar o que estamos encomendando, de onde estamos trazendo e quando vai chegar”, disse Mac Harman, CEO da Balsam Brands, controladora da Balsam Hill. “Não sabemos quais itens poderemos incluir no catálogo.”
Meses de incerteza sobre quais produtos estrangeiros podem ficar mais caros para importar lançaram dúvidas sobre a temporada de compras.
Os varejistas dos EUA geralmente iniciam o planejamento do Natal em janeiro e finalizam a maior parte dos pedidos até o fim de junho. As tarifas instáveis já impactaram esse processo.
E as consequências para os consumidores? As lojas podem não ter os presentes específicos que os clientes desejam em novembro e dezembro.
Alguns fornecedores e varejistas reduziram suas linhas de fim de ano para evitar impostos elevados ou estoques encalhados. Os preços ainda estão sendo definidos, mas os consumidores devem se preparar para aumentos — cujo impacto dependerá da entrada em vigor da nova rodada de tarifas “recíprocas” de Trump no próximo mês.
A incerteza tem sido especialmente prejudicial para a indústria de brinquedos dos EUA, que importa quase 80% de seus produtos da China. Os fabricantes americanos normalmente aumentam a produção em abril, mas este ano isso foi adiado até o fim de maio, após o presidente impor uma tarifa de 145% sobre produtos chineses, segundo Greg Ahearn, presidente da Toy Association.
Embora a tarifa tenha diminuído desde o pico na primavera — uma trégua na guerra comercial EUA-China expira em 12 de agosto —, ela continua influenciando o período de festas. A produção de pequenas e médias empresas de brinquedos nos EUA está muito abaixo do registrado no ano passado, segundo Ahearn.
O atraso no início da produção na China significa que os brinquedos de Natal estão chegando apenas agora aos depósitos nos EUA. Uma grande dúvida é se as tarifas impedirão as lojas de repor estoques de brinquedos que se tornem sucesso em setembro, afirmou James Zahn, editor-chefe da revista Toy Book.
Planejar o Natal em julho geralmente envolve definir estratégias de marketing e promoções. Dean Smith, proprietário das lojas de brinquedos JaZams em Princeton (Nova Jersey) e Lahaska (Pensilvânia), contou que passou uma hora e meia com um distribuidor canadense analisando cenários de preços, já que o custo de atacado de alguns produtos aumentou 20%.
Ele avaliou que aumentar os preços nessa proporção poderia afastar os clientes, então buscou alternativas para “manter uma margem razoável sem ultrapassar o que os consumidores aceitariam”. Encomendou uma versão mais barata do brinquedo Crazy Forts e excluiu a edição infantil do jogo de cartas Anomia, por considerar que os clientes não pagariam o valor necessário.
“No fim, precisei eliminar metade dos produtos que normalmente encomendo”, disse Smith.
Co-proprietários Dean Smith, à esquerda, e Joanne Farrugia posam para uma fotografia na JaZams, uma de suas lojas de brinquedos, na sexta-feira, 27 de junho de 2025, em Princeton, Nova Jersey.
AP Photo/Matt Slocum
Hilary Key, proprietária da loja The Toy Chest em Nashville (Indiana), contou que costuma testar novos brinquedos com antecedência para decidir quais estocar para o Natal. Este ano, ela desistiu dos testes com receio de que pedidos atrasados resultassem em tarifas elevadas.
Enquanto isso, fornecedores de brinquedos fabricados na China e em outros países enviaram diversos avisos de aumento de preços a Key. A Schylling, por exemplo — fabricante do Needoh, de colecionáveis dos Ursinhos Carinhosos e de versões modernas de brinquedos nostálgicos como o My Little Pony — elevou os preços em 20%, segundo ela.
Todos esses aumentos podem ser revistos caso a situação tarifária volte a mudar. Key teme que sua loja perca a variedade de produtos da qual sempre se orgulhou.
“Minha preocupação não é ficar sem produtos, porque posso trazer mais livros, presentes ou itens fabricados em outros países”, disse ela. “Mas isso não garante que terei o melhor estoque para cada faixa etária ou necessidade específica.”
O setor varejista pode ter que continuar enfrentando as mudanças imprevisíveis nas tarifas impostas pela Casa Branca. Na semana passada, o presidente reajustou novamente as tarifas sobre importações do Brasil, União Europeia, México e outros parceiros comerciais, mas afirmou que elas só entrarão em vigor em 1º de agosto.
Essa breve pausa deve estender o prazo para que os importadores tragam mercadorias sazonais com a tarifa básica atual de 10%.
O Porto de Los Angeles registrou o mês de junho mais movimentado de seus 117 anos, com empresas acelerando os embarques para o fim de ano. As importações de julho também seguem fortes, segundo Gene Seroka, diretor executivo do porto.
“Na minha avaliação, estamos presenciando um pico de movimentação agora, com empresas antecipando embarques antes da possível alta nas tarifas no fim do verão [nos EUA]”, disse Seroka.
O ritmo das atividades portuárias reflete o chamado “efeito gangorra das tarifas” — as importações caem quando as tarifas entram em vigor e aumentam quando são suspensas.
“Para nós, consumidores, estoques mais baixos, menos opções e preços mais altos são cenários prováveis à medida que nos aproximamos das festas.”
Smith e sua sócia, Joanne Farrugia, anteciparam os pedidos de Natal em dois meses para “certos itens que consideramos essenciais com preços específicos”. Eles dobraram o espaço do depósito para armazenar os estoques. Alguns clientes também estão tentando se antecipar aos aumentos de preços.
Smith observou que os consumidores estão comprando itens com potencial de popularidade no Natal, como pelúcias Jellycat e grandes unicórnios e cachorros de pelúcia. As vendas são bem-vindas, mas ele e Farrugia temem ter que repor os estoques com preços mais elevados.
“Estamos tentando ser o mais acessíveis possível para o consumidor e, ao mesmo tempo, manter um portfólio de produtos que atenda às necessidades de todos os nossos clientes — o que está se tornando mais difícil a cada dia”, afirmou Smith.
Harman, da Balsam Brands, contou que precisou se conformar com uma seleção menos variada de enfeites e árvores com neve artificial em comparação com anos anteriores. Em breve, será tarde demais para importar novos produtos relevantes.
“Nossa missão como empresa é criar alegria juntos, e vamos fazer o nosso melhor para cumprir isso neste ano”, afirmou Harman. “Só não teremos muitos dos itens que os consumidores desejam — e essa não é a posição em que gostaríamos de estar.”