Lula fala em ‘colapso do multilateralismo’ ao citar a ONU e critica guerras

Presidente discursou na abertura da 17ª Cúpula dos Brics. Segundo ele, é sempre ‘mais fácil investir na guerra do que na paz’. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou neste domingo (6) na 17ª Cúpula do Brics — que ocorre no Rio de Janeiro até esta segunda (7).
Na ocasião, Lula citou o ‘colapso do multilateralismo’ ao citar a Organização das Nações Unidas (ONU) e criticou guerras.
“É sempre mais fácil investir na guerra do que na paz”, afirmou o presidente, que voltou a usar a palavra “genocídio” para se referir ao conflito na Faixa de Gaza.
“Não podemos permanecer indiferentes ao genocídio praticado por Israel em Gaza. A solução só será possível com o fim da ocupação israelense e o estabelecimento um estado palestino soberano”, prosseguiu.
Presidente Lula chega ao MAM para a abertura da Cúpula do Brics
No Fórum Empresarial do Brics neste sábado (5), evento que antecedeu o encontro de líderes, Lula defendeu a criação de uma “governança multilateral” para regras sobre inteligência artificial, além de “diretrizes claras”.
No discurso aos empresários e representantes dos países do Brics, Lula também voltou a defender o multilateralismo entre nações para superar desafios econômicos.
No mesmo dia, o presidente também participou de reuniões bilaterais com lideranças de países membros e parceiros do Brics — ocasião em que trocou presentes e definiu compromissos.
🔎O Brics um fórum de articulação político-diplomática e de cooperação em diversas áreas. Na presidência rotativa, cada país propõe eixos de discussão (veja abaixo os países que fazem parte).
Anualmente, os chefes de Estado se encontram para debater os eixos sugeridos e assinar a declaração conjunta.
O Brasil assumiu a presidência do bloco em 1º de janeiro de 2025 e escolheu o Rio de Janeiro — mais precisamente o Museu de Arte Moderna, o MAM — para sediar a cúpula.
Mas Vladimir Putin e Xi Jinping não vieram — o russo participará remotamente, e o chinês mandou o premiê.
O grupo vive hoje um de seus momentos mais delicados, com guerras em curso, disputas comerciais e novos integrantes com agendas fortes. Segundo especialistas ouvidos pelo g1, um dos desafios do Brasil é evitar uma guinada antiocidental no grupo.
Para manter sua posição de neutralidade nos conflitos globais, ainda segundo esses especialistas, o Brasil deve contrapor posição dos países mais fortes do Brics, como China e Rússia.
Sob a presidência brasileira, os temas prioritários definidos são:
Saúde
Meio Ambiente
Inteligência Artificial (IA)
Veja detalhes mais abaixo.
Negociadores apresentam documento com propostas que serão discutidas na Cúpula do Brics no Brasil
Expectativa inicial
Apesar da presença de países diretamente envolvidos em conflitos, como Rússia e Irã, desde o início, temas ligados à guerra na Ucrânia e aos confrontos no Oriente Médio não estavam previstos na agenda oficial.
A expectativa do governo brasileiro era aprovar não só a declaração final dos chefes de Estado como três declarações conjuntas nas áreas prioritárias, resultado de discussões técnicas que vêm ocorrendo ao longo do ano.
Segundo fontes do Itamaraty, a meta foi dar ênfase a conquistas concretas da presidência brasileira à frente do bloco.
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O que é Brics?
O Brics é um grupo formado por 11 países membros e outros parceiros que funciona como foro de articulação político-diplomática do Sul Global e de cooperação em várias áreas.
Entre os objetivos estão fortalecer a cooperação econômica, política e social entre seus membros e promover um aumento da influência dos países do Sul Global na governança internacional.
“O grupo busca melhorar a legitimidade, a equidade na participação e a eficiência das instituições globais, como a ONU, o FMI, o Banco Mundial e a OMC. Além disso, visa impulsionar o desenvolvimento socioeconômico sustentável e promover a inclusão social”, diz texto no site do Brics.
Quem faz parte do Brics?
Ao todo, incluindo os parceiros, o grupo é formado por 21 países do Sul Global — nações em desenvolvimento da América Latina, África, Ásia e Oceania.
Membros-fundadores (em 2009):
Brasil
Rússia
Índia
China
A África do Sul entrou no ano seguinte, e a sigla ganhou o S de South Africa, virando Brics.
Membros efetivos
Arábia Saudita
Egito
Emirados Árabes Unidos
Etiópia
Indonésia
Irã
Países parceiros
Belarus
Bolívia
Cazaquistão
Cuba
Malásia
Nigéria
Tailândia
Uganda
Uzbequistão
Quais temas estão na pauta?
A Cúpula discute temas como cooperação em saúde global, comércio, investimento e finanças, mudança do clima, governança da inteligência artificial, reforma da arquitetura multilateral de paz e segurança, e o desenvolvimento institucional do Brics.
Mais de 100 reuniões preparatórias foram realizadas entre fevereiro e julho deste ano, muitas delas por videoconferência.
Além disso, houve duas reuniões com os negociadores políticos – os chamados sherpas.
A primeira, em fevereiro, no Palácio Itamaraty, em Brasília, teve a aprovação unânime dos temas centrais propostos pelo Brasil, com destaque ao ponto de revisão da Parceria Estratégica na Área Econômica, um plano de cinco anos que passa por renovação sob a liderança brasileira.
O destaque da segunda reunião, já no Rio, em abril, foi a participação inédita da sociedade civil, com uma mudança significativa na forma como o grupo incorpora as demandas sociais no processo decisório.
O resultado foram consensos como de que o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês) deve ser principal agente de financiamento da industrialização do Sul Global.
Desde terça-feira (30), os negociadores políticos do grupo voltaram a se encontrar, de novo no Rio, para alinhar compromissos sobre:
🩺Saúde: a proposta é criar uma Parceria para Eliminar Doenças Socialmente Determinadas, como as causadas por pobreza, fome e moradia precária. A ideia é que os países do Sul Global atuem juntos em ações integradas e multissetoriais, ampliando a cooperação em vacinas e buscando equidade em saúde.
🤖 Inteligência artificial: o grupo quer estabelecer uma governança internacional para uso ético da IA, voltada à solução de problemas como pobreza, desigualdade e clima. Foi assinada uma declaração que defende o acesso democrático a tecnologias, desenvolvimento de linguagens acessíveis e infraestrutura comum entre os países-membros.
🌱 Mudança do clima: pela primeira vez, o Brics firmou um documento conjunto sobre financiamento climático, com foco em países em desenvolvimento. A proposta prevê reformas em bancos multilaterais, maior volume de financiamento concessional e mobilização de capital privado, além de ajustes regulatórios para viabilizar recursos para ações climáticas no Sul Global.
Quem coordena os trabalhos, como sherpa brasileiro, é o embaixador Mauricio Lyrio, já experiente nesta posição, uma vez que, no último ano, também atuou como sherpa no contexto da presidência brasileira do G20. Lyrio também é secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores.