Haddad diz que falas de Trump têm ‘grau de incerteza’ e defende cautela para manutenção de acordo com EUA

Haddad diz que falas de Trump têm ‘grau de incerteza’ e defende cautela para manutenção de acordo com EUA


Segundo Fernando Haddad, o foco não são as declarações polêmicas do presidente americano, mas o trabalho de negociação de acordos da equipe técnica brasileira com a equipe dos EUA. Haddad diz que falas de Trump têm ‘grau de incerteza’
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira (8) que as falas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre tarifas têm um “grau de incerteza”.
Nesse sentido, o ministro ponderou que o Brasil não pode considerar tudo o que está sendo dito, a fim de garantir a manutenção do acordo bilateral que está sendo construído entre os dois países.
“Tem um grau de incerteza nas falas que precisam ser avaliadas com o tempo. Os prazos estão sendo prorrogados, têm muitas idas e vindas, nós temos que aguardar”, afirmou Haddad.
A previsão era que nesta quarta (9) voltassem a valer as chamadas “tarifas recíprocas”, que atingiram mais de 180 países. No entanto, Trump anunciou nesta segunda (7) uma nova data: 1º de agosto (entenda mais abaixo).
“Tem uma equipe do presidente Lula sentada à mesa com o governo americano tratando do nosso acordo bilateral”, pontuou Haddad.
“Então, estamos focando no trabalho técnico feito por eles, porque se considerar tudo que está sendo dito, nós vamos nos perder num discurso que pode não conduzir para o melhor resultado para os dois países”, prosseguiu.
Haddad também defendeu as parcerias firmadas pelo Brasil com países ao redor do mundo. No domingo (6), Trump ameaçou taxar países alinhados com o Brics — bloco que reúne países do chamado Sul Global (veja mais a seguir).
“O Brasil não tem relação só com os Brics, é com o mundo inteiro. Estamos fechando acordo com a União Europeia, vários acordos bilaterais com o Oriente Médio”, listou.
“Nós não podemos, pela escala da economia brasileira, prescindir dessas parcerias. Nós não podemos nos tornar apêndice de um bloco”, acrescentou.
Haddad deu declaração à imprensa, nesta manhã, na porta do Ministério da Fazenda.
Haddad durante discurso no lançamento do Plano Safra para agricultura familiar
Reprodução/Canal Gov
Decisão sobre o IOF
Durante a conversa com jornalistas, Haddad também falou sobre a decisão do ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender tanto os decretos do governo sobre o Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) como a decisão do Congresso que derrubou os decretos.
Haddad já tinha comentado que a decisão de Moraes é “ótima” para o Brasil. Agora, afirmou que documentos técnicos estão sendo preparados para comprovar para o ministro, relator da ação, a estratégia do governo que, segundo Haddad, é de evitar, entre outras coisas, a evasão fiscal.
“Nós atingimos patamares absurdos: R$ 800 bilhões que estão favorecendo determinados grupos econômicos em determinado do empresariado nacional”, ponderou o ministro.
“Toda vez que você favorece um grupo econômico, você compromete as metas fiscais, a taxa de juros fica alta, prejudica o país inteiro. Qual é o sentido?”, questionou Haddad.
Trump anuncia novas tarifas a 14 países que têm até o dia 1º de agosto pra fechar um acordo bilateral
Guerra comercial
O presidente norte-americano Donald Trump vem travando uma guerra comercial global, impondo tarifas a alguns países, incluindo o Brasil, o chamado “tarifaço”.
No domingo (6), Trump, inclusive, anunciou em sua rede social tarifas de 10% contra “qualquer país que se alinhar a políticas antiamericanas do Brics”, mas não esclareceu o que considera “políticas antiamericanas” ou quais países poderiam ser taxados.
Na ocasião, a 17ª Cúpula do Brics ocorria no Brasil, no Rio de Janeiro, e reuniu lideranças de países-membros e parceiros.
Um dia depois das declarações do americano, Lula afirmou que o Brics, bloco formado por países do chamado Sul Global, “não nasceu para afrontar ninguém”. E, questionado diretamente sobre a publicação, respondeu que não é correto.
Brasil ainda tenta acordo
Nesta quarta (9), terminaria a pausa de 90 dias no programa de tarifas recíprocas imposto pelo presidente dos Estados Unidos. No entanto, agora, o republicano anunciou nova data: 1º de agosto.
Os EUA vêm tentando firmar acordos com seus principais parceiros comerciais — mas, até agora, chegaram a um entendimento prévio com apenas três países.
Como o g1 já mostrou, embora o Brasil não tenha sido um dos mais impactados pelo tarifaço, com alíquota de 10%, especialistas destacam que o país continua sujeito às tarifas sobre aço e alumínio, em vigor desde o início de junho.
Antes fixadas em 25%, as tarifas foram elevadas para 50% por meio de um decreto assinado por Trump. Tanto o aço quanto o alumínio são produtos estratégicos para as exportações brasileiras, e o Brasil é um dos principais fornecedores de aço para os EUA.
O ministro do Desenvolvimento e vice-presidente, Geraldo Alckmin, chegou a se pronunciar algumas vezes nos últimos meses sobre os impactos das tarifas de Trump para o Brasil e o mundo, mas sem detalhar o andamento das negociações.
No início de junho, Alckmin afirmou que a melhor forma de mitigar os efeitos seria aprofundar o diálogo com os americanos, destacando a criação de um grupo de trabalho bilateral com o secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e o USTR (representante do comércio dos EUA).
Pelo lado do Brasil, o grupo conta com a participação do Ministério da Indústria e do Ministério das Relações Exteriores. Procurado, o MDIC afirmou ao g1 que as negociações foram iniciadas em março e que, desde então, “uma série de reuniões presenciais e virtuais” tem sido realizada para dar continuidade às tratativas.