Haddad critica atuação de Castro em relação a fraudes com combustíveis: ‘Governador tem feito praticamente nada’
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quarta-feira (29) que o governo federal tem atuado contra o crime organizado “na fonte”, e criticou a atuação do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, na prevenção a fraudes com combustíveis.
As declarações foram dadas na portaria do Ministério da Fazenda, a jornalistas, um dia após a operação que foi considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro, nos complexos do Alemão e da Penha.
Governo do Rio e governo federal trocam acusações sobre operação com dezenas de mortos no Rio
Segundo informações divulgadas nesta quarta, o número de mortos pode passar de 100 pessoas.
“Eu penso que o governador [do Rio de Janeiro] poderia nos ajudar em relação a isso. O governo do estado do Rio tem feito praticamente nada em relação ao contrabando de combustíveis, que é como você irriga o crime organizado”, afirmou Haddad.
“Para você pegar o andar de cima do crime organizado, que é quem efetivamente tem o dinheiro na mão, e municia as milícias, tem de combater de onde está vindo o dinheiro”, prosseguiu o ministro.
Combate ao crime
Haddad afirmou, ainda, que o Ministério da Fazenda está “atuando forte” no Rio contra o crime organizado ao reprimir o seu financiamento por meio da fraude com combustíveis.
Ele lembrou que foram apreendidos quatro navios recentemente, e declarou que está havendo uma “guerra jurídica” para liberação dessas mercadorias.
“O dinheiro, no caso do Rio de Janeiro, todo mundo sabe que está vindo do contrabando de combustível, da fraude tributária, da simulação de refino, da distribuição de combustível batizado. Penso que o governador deveria acordar para esse problema, que é crônico no Rio de Janeiro, e nos ajudar a combater o andar de cima”, reiterou.
O ministro alegou que, “quando o dinheiro está irrigando o crime, é muito difícil você, na ponta, conseguir controlar”.
“Tem de controlar pelo alto, asfixiar o crime. Ele, sem dinheiro, tem pouca capacidade de atuação”.
Haddad disse, também, que o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, “precisa acordar para esse problema crônico”, e defendeu a aprovação da PEC da Segurança Pública para impor aos governadores, ao presidente da República, à Receita e à Polícia Federal, além do Ministério Público estadual, uma integração.
“Assim vamos conseguir combater o crime organizado”, concluiu.
Operação contra o PCC
Em agosto, uma força-tarefa nacional com cerca de 1.400 agentes cumpriu mandados de busca, apreensão e prisão em oito estados para desarticular um esquema criminoso bilionário no setor de combustíveis, comandado por integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
A megaoperação, batizada de Carbono Oculto, foi considerada a maior operação da história do Brasil contra o crime organizado.
O grupo sonegou mais de R$ 7,6 bilhões em impostos federais, estaduais e municipais, segundo autoridades da Fazenda de SP.
Ela é a junção de três operações e acontece em São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
As investigações revelaram que o grupo criminoso atuava na importação irregular de produtos da cadeia de combustíveis. As irregularidades foram identificadas em diversas etapas do processo de produção e distribuição de gasolina e etanol no país.
O esquema tem lesado não apenas os consumidores que abastecem seus veículos no Brasil, mas toda uma cadeia econômica ligada aos combustíveis.
Uma das frentes de ação do PCC era a importação irregular de produtos químicos para adulterar os combustíveis. Os investigadores identificaram mais de 300 postos que atuavam nessas fraudes. Já o setor estima um impacto maior, em cerca de 30% dos postos em todo o estado de São Paulo, em torno de 2.500 estabelecimentos.
A Receita Federal também identificou ao menos 40 fundos de investimentos, com patrimônio de R$ 30 bilhões, controlados pelo PCC. Segundo o órgão, as operações aconteciam justamente no mercado financeiro de São Paulo, por meio de membros infiltrados na Avenida Faria Lima.
Esses fundos de investimentos foram utilizados como estruturas de ocultação de patrimônio e financiaram a compra de um terminal portuário, usinas produtoras de álcool e imóveis.
Mais de 350 alvos – entre pessoas físicas e jurídicas – são alvos da operação nesta quinta, suspeitos de crimes contra a ordem econômica, adulteração de combustíveis, crimes ambientais, lavagem de dinheiro, fraude fiscal e estelionato.
