Gleisi defende cassação de Eduardo Bolsonaro: ‘Não tem o direito de continuar como deputado’

Gleisi defende cassação de Eduardo Bolsonaro: ‘Não tem o direito de continuar como deputado’


A ministra-chefe das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, defendeu nesta terça-feira (29) a cassação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-RJ).
Em declaração à imprensa, no Palácio do Itamaraty, Gleisi afirmou que Eduardo é um “traíra” e que o parlamentar fluminense não tem o “direito de continuar deputado pelo Brasil” (leia mais abaixo).
Filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, Eduardo está morando nos Estados Unidos desde fevereiro deste ano.
No STF, expectativa é por ação da Câmara ou PGR sobre mandato de Eduardo Bolsonaro
Em solo americano, o deputado tem se reunido com representantes do governo americano e é apontado como um dos pilares da decisão do presidente americano, Donald Trump, de sobretaxar exportações brasileiras aos EUA.
O deputado se tornou alvo de um inquérito, no Supremo Tribunal Federal (STF), por uma tentativa de influenciar processos contra o pai por meio das sanções econômicas de Trump ao Brasil.
Para a ministra responsável pela articulação política do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Eduardo Bolsonaro tem trabalhado para prejudicar o Brasil por meio das medidas de Trump contra produtos brasileiros.
“Esse é um traíra. Ele, Eduardo Bolsonaro,] comete crime de lesa-pátria. Não tem o direito de continuar deputado pelo Brasil. Com certeza, eu espero que o Congresso Nacional, a Câmara dos Deputados tomem medidas para que esse traíra não possa representar mais nenhuma instituição brasileira”, disse Gleisi.
Gleisi Hoffmann durante cerimônia com Lula em 25 de fevereiro de 2025
Ton Molina/FotoArena/Estadão Conteúdo
Afastamento do mandato
Ao deixar o país rumo aos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro pediu um afastamento do mandato parlamentar. A licença, solicitada por ele em março, se encerrou neste mês, e Eduardo voltou a exercer o mandato de deputado — mesmo morando fora do Brasil.
O parlamentar tem dito a aliados que não renunciará ao mandato. Pelas regras da Câmara, se não retornar ao país para registrar presença em sessões deliberativas, Eduardo Bolsonaro passará a ter ausências registradas, o que eventualmente pode levar à perda do mandato por baixa frequência na Casa.
Em publicações e transmissões ao vivo nas redes sociais, Eduardo tem repetido que está “mandando recados” a autoridades brasileiras e que Donald Trump apenas recuará do tarifaço aos produtos brasileiros com um perdão aos condenados pelos ataques do 8 de janeiro de 2023.
“Soltem os presos políticos (anistia ampla, geral e irrestrita) que isso [tarifas] começa a acabar. Simples”, escreveu o deputado, que admitiu ter participado de reuniões que antecederam o anúncio das sobretaxas.
O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro também sinalizou para possíveis penalizações aos presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).
Aliados dos parlamentares avaliaram as declarações de que Alcolumbre e Motta estariam no “foco do governo americano” como ameaças de Eduardo, que tenta avançar com a pauta da anistia no Congresso.
A ministra das Relações Institucionais saiu em defesa de Hugo Motta e Davi Alcolumbre. Para ela, os movimentos de Eduardo apontam para uma “conspiração” do parlamentar com agentes do governo americano.
Nesta terça, Gleisi Hoffmann afirmou a jornalistas que espera conversar com os presidentes da Câmara e do Senado a respeito do assunto nos próximos dias: “Eles não estão aqui [em Brasília]. Combinamos de nos encontrar”.
Foto de arquivo de 28/03/2023 do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL- SP) em sessão da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF).
WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
Brasil está sendo ‘ameaçado’, diz ministra
A ministra participou nesta terça da abertura de um evento que reúne representantes das sociedades civis do Brasil e da União Europeia. Em seu discurso, ela fez menção ao tarifaço de Trump.
Gleisi afirmou que o Brasil está “sendo ameaçado” pelo presidente dos Estados Unidos com “medidas unilaterais no campo comercial, que não se justificam sob qualquer argumento objetivo”.
A responsável pela articulação política de Lula classificou a taxação como uma medida “política explícita e igualmente injustificável”.
“Nunca nos recusamos a negociar em termos justos e equilibrados com nossos parceiros comerciais, e os companheiros da União Europeia sabem disso. Mas não podemos aceitar, nenhum país soberano pode aceitar, ingerência externa nos processos e decisões do seu Poder Judiciário, do Congresso Nacional ou de qualquer outra instituição”, declarou Gleisi Hoffmann.
Pouco antes da declaração do discurso de Gleisi, o presidente do Comitê Econômico e Social Europeu (CESE), Oliver Röpke, prestou solidariedade ao governo brasileiro e defendeu ações do Brasil em defesa da soberania nacional e do “desenvolvimento econômico sem intimidação”.
“Mais uma vez, gostaria de saudar a liderança do presidente Lula na sustentabilidade, na inclusão social, na democracia participativa e no multilateralismo. Nesses tempos desafiadores, isso é mais importante do que nunca”, afirmou Röpke.
Ao ser questionada por jornalistas, a ministra Gleisi Hoffmann disse que o Brasil está “aberto” a negociar apenas em questões comerciais. Segundo ela, até o momento, não houve qualquer “retorno oficial” por parte dos EUA.
Gleisi também afirmou que o presidente Lula está disposto a conversar com Donald Trump. Mas, na avaliação dela, isso depende de uma “preparação” e da disposição de Trump ao diálogo.