Galípolo diz que pouca dependência dos EUA é ‘oportunidade de proteção’ ao tarifaço, mas efeito virá no PIB

Galípolo diz que pouca dependência dos EUA é ‘oportunidade de proteção’ ao tarifaço, mas efeito virá no PIB


Galípolo diz que ‘nunca’ gostou da ideia de elevar o IOF
O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, fez um balanço dos impactos do tarifaço na economia brasileira nesta segunda-feira (11), durante palestra na Reunião do Conselho Político e Social da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Ao relembrar o anúncio das tarifas recíprocas, o dirigente comparou a situação com a do México, observando que o Brasil seria menos afetado que o país vizinho. Naquele momento, a taxa era de 10%.
📱Baixe o app do g1 para ver notícias em tempo real e de graça
“A pouca dependência comercial com os EUA, antes considerada uma desvantagem, passou a ser uma forma de proteção com o tarifaço. O Brasil vai ‘se machucar’ menos do ponto de vista comercial”, afirmou Galípolo.
Segundo o presidente do BC, o balanço de riscos do Comitê de Política Monetária (Copom) em janeiro já havia considerado os efeitos das tarifas anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, prevendo impacto negativo na economia.
Agora, com a sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, Galípolo afirma que os questionários pré-Copom apontam que os economistas já projetam alguns cenários. “A avaliação é de que o impacto mais duradouro será sobre o PIB [Produto Interno Bruto]”, afirmou.
As análises indicam que, com o redirecionamento da oferta desses produtos para o mercado interno, os preços tendem a cair no curto prazo.
Porém, se as negociações com os EUA se agravarem, o real pode se desvalorizar ainda mais frente ao dólar, pressionando a inflação no médio prazo.
“Agora, os impactos na atividade econômica — como a perda de empregos em alguns setores que precisarão buscar novos destinos para suas exportações — ainda não foram totalmente considerados pelos economistas.”
ACSP recebe o Presidente do Banco Central do Brasil Gabriel Galípolo.
Divulgação/ACSP
Autoridade monetária vigilante
Sobre a taxa básica de juros (Selic), Galípolo descartou cortes ao menos nas próximas reuniões. Na última, o Copom encerrou o ciclo de altas e manteve a Selic em 15% ao ano.
“Elevamos a Selic a um patamar restritivo e vamos mantê-la nesse nível para garantir que a inflação convirja para a meta. Essa é a nossa bola, e não podemos tirar o olho dela”, disse Galípolo.
Segundo ele, o BC segue atento aos sinais econômicos que possam justificar cortes, mas evitou indicar quando isso pode ocorrer. Ainda assim, observou que as projeções de inflação apresentam caudas “mais gordas” em termos de riscos.
“Tivemos um aumento da incerteza e temos mais riscos”, disse Galípolo. Caso esses riscos se confirmem, ele avalia que o impacto poderá ser maior que o previsto, envolvendo tanto o efeito das tarifas quanto a política fiscal.
ACSP recebe o Presidente do Banco Central do Brasil, Gabriel Galípolo.
Divulgação/ACSP
PIX como serviço público
Com o lançamento do PIX Parcelado em breve, Galípolo voltou a defender que o sistema de pagamento instantâneo seja mantido como serviço público. Na semana passada, o tema foi discutido no evento Blockchain Rio, sem citar a pressão do governo dos EUA sobre o sistema nacional.
“As evoluções do PIX mostram o quanto é importante que ele continue como é: uma infraestrutura pública. Dessa forma, é possível contar com diversos participantes nessa ‘rodovia'”, comentou.
Em julho, o Escritório do Representante de Comércio (USTR, na sigla em inglês) anunciou que os EUA abriram investigação comercial contra o PIX. Embora o sistema não seja citado nominalmente, o documento menciona “serviços de comércio digital e pagamento eletrônico” do governo brasileiro, sendo o PIX o único deles.
O documento também afirma que o Brasil “se envolve em uma variedade de atos, políticas e práticas que podem prejudicar a competitividade das empresas americanas que atuam no comércio digital e em serviços de pagamento eletrônico”.