Fraude nos combustíveis: saiba como identificar gasolina e etanol adulterados

Megaoperação mira esquema bilionário do PCC
Uma megaoperação foi realizada na manhã desta quinta-feira (28) para investigar a adulteração de combustíveis, com ligação do PCC. O g1 ouviu especialistas e mostra como identificar se seu carro foi abastecido com gasolina ou etanol adulterado.
O solvente identificado na investigação foi o metanol, substância altamente inflamável, tóxica e de difícil identificação.
“O metanol tem alta capacidade de combustão, a água não. Além disso, nos testes a água separa totalmente do combustível, o metanol não”, explica Tenório Júnior, técnico e professor de mecânica automotiva.
É comum que postos adulterem a gasolina com mais etanol do que os 30% permitidos por lei que entrou em vigor em agosto de 2025, além de água ou outros produtos, como a nafta.
Segundo Orli Robalo, mecânico em Porto Alegre (RS), luzes no painel podem indicar que o combustível está adulterado. “O combustível alterado faz com que sature a leitura dos sensores e faz ligar essa luz”, aponta o especialista.
Luz de alerta para problemas no combustivel
reprodução/TV Globo
Denis Marum, mecânico com formação em engenharia mecânica, afirma que a perda de potência é um sinal claro de combustível adulterado.
“Assim que você abastece, o pedal do acelerador fica ‘borrachudo’. Você sente que precisa acelerar mais para obter a mesma velocidade”, diz.
Marum aponta outros indícios, como:
Consumo elevado: “geralmente, o consumo médio despenca 30%. É fácil de perceber para quem faz o mesmo percurso diariamente: o tanque dura menos”, diz o especialista;
Dificuldade para pegar pela manhã;
Ruído do motor semelhante ao de uma corrente de bicicleta trocando de marcha. “Esse ruído ocorre nas saídas e, principalmente, em subidas, momentos em que o motor é mais exigido”, aponta;
Odores estranhos saindo do escapamento;
Cheiro de solvente ou querosene.
José Luiz de Souza, especialista da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), explica que é possível identificar combustível adulterado antes mesmo de abastecer. Para isso, basta coletar 50 ml de gasolina e misturar com a mesma quantidade de água e sal.
Depois de misturado, o etanol que estava na gasolina se junta à água e, após um repouso de 10 minutos, os líquidos se separam, com a gasolina ficando na parte superior da proveta.
Como a gasolina brasileira pode conter até 30% de álcool, a separação entre os líquidos deve ocorrer na marca de 65 ml. Em alguns postos, a legislação mais recente permite até 30% de etanol.
“Se tiver abaixo disso a gasolina não está em conformidade. Se estiver a cima, tem mais álcool que o permitido”, disse José Luiz de Souza, especialista da ANP.
Eustáquio de Castro, coordenador do Laboratório de Pesquisa e Análise de Petróleo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), explica que é possível aplicar um teste de densidade no próprio posto de combustíveis.
A resolução nº 9 da ANP, de 7 de março de 2007, determina que todos os postos de combustíveis devem ter kits para realizar esses testes. Neste caso, um densímetro que deve apontar no máximo 0,75425 t/m3 para a gasolina.
“Se estiver muito abaixo é sinal que tem nafta, porque a nafta é solvente, tem uma densidade menor. Então por aí já tem o indício”, explicou o coordenador do laboratório.
O que é o metanol?
Segundo a ANP, o metanol é um dos compostos orgânicos mais relevantes na indústria química. Ele é usado como matéria-prima na fabricação de produtos como adesivos, solventes, pisos e revestimentos.
Produzido a partir do gás natural, o metanol também é usado na fabricação do biodiesel — um combustível renovável misturado ao diesel comum.
A agência aponta que os produtores do biodiesel correspondem a 52% do consumo de etanol no Brasil e o restante está aplicado em produtos como formol, resinas e na preparação de madeiras e compensados.
O metanol pode ser usado para adulterar etanol e gasolina, oferecendo “riscos à saúde humana e à segurança pública e privada, quando armazenado e transportado sem os cuidados necessários”, segundo a ANP.
De acordo com as resoluções 807/2020 e 907/2022, a ANP permite um limite máximo de 0,5% de metanol na composição da gasolina e do etanol.