Dólar opera em alta e vai a R$ 5,47, com tarifas de Trump e ata do Fed no foco

Na véspera, a moeda americana caiu 0,59%, cotada a R$ 5,4453. Já o Ibovespa recuou 0,13%, aos 139.303 pontos. Dólar
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O dólar opera em alta de 0,54% nesta quarta-feira (9), cotada a R$ 5,4745 perto das 09h30. As negociações do Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, só começam às 10h.
▶️Os novos capítulos do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ficam no radar, em meio à promessa do republicano de enviar mais cartas para seus parceiros comerciais, estabelecendo novas tarifas mínimas para a negociação comercial.
Na última segunda-feira (7), o republicano já havia notificado os líderes de 14 nações sobre a cobrança de tarifas de 25% a 40% a partir do próximo mês. Na véspera, Trump afirmou que deve enviar novas cartas ainda nesta quarta-feira (9).
▶️ Além disso, Trump também prorrogou para agosto a volta das suas tarifas sobre importações na última segunda-feira, ampliando a janela de negociação com parceiros comerciais. A previsão era que as chamadas “tarifas recíprocas”, que atingiram mais de 180 países, voltassem a valer hoje.
A decisão, no entanto, não trouxe alívio aos mercados. Isso porque a possível volta das tarifas ainda preocupa investidores, devido à avaliação de que essas taxas podem elevar os preços ao consumidor e os custos de produção, o que tende a aumentar a inflação e forçar o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) a manter os juros do país altos por mais tempo.
▶️ Nesse sentido, investidores também aguardam a publicação da ata da última reunião do Fed, em junho. A expectativa dos analistas é que o documento traga novas pistas sobre o futuro dos juros nos EUA, em meio aos sinais de que a atividade econômica continua aquecida no país.
▶️ No Brasil, o mercado acompanha os desdobramentos da reunião entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e outros membros do governo com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta. O encontro aconteceu ontem para tratar sobre medidas alternativas para o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Veja abaixo como esses fatores impactam o mercado.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
💲Dólar
a
Acumulado da semana: +0,39%;
Acumulado do mês: +0,22%;
Acumulado do ano: -11,88%.
📈Ibovespa
Acumulado da semana: -0,58%;
Acumulado da semana: -1,39%;
Acumulado do mês: +0,32%;
Acumulado do ano: +15,81%.
O novo capítulo das tarifas de Trump
Desde o início da semana, Trump tem enviado cartas a líderes de diferentes nações, definindo tarifas mínimas para as negociações comerciais desses países com os EUA.
Na segunda-feira, por exemplo, uma série de notificações foi enviada, com alíquotas mínimas sobre produtos importados que variavam de 25% a 40% e têm vigência a partir de 1º de agosto. Já na terça-feira, o republicano prometeu que novas cartas deviam ser expedidas hoje e ao longo dos próximos dias.
As cartas já enviadas seguem um padrão semelhante: Trump afirma que o gesto representa uma demonstração da “força e do compromisso” dos EUA com seus parceiros e destaca o interesse em manter as negociações, apesar do déficit comercial significativo.
🔎 A volta das atenções de Trump para as tarifas reacende preocupações sobre eventuais efeitos dessas taxas na inflação dos EUA e do mundo. Isso porque a leitura dos investidores é que as taxas impostas por Trump podem acabar aumentando os custos de produção baseados em produtos importados e, consequentemente, elevar os preços ao consumidor.
Caso se concretize, esse cenário tende a pressionar a inflação norte-americana e pode forçar o Fed a manter os juros do país altos por mais tempo — o que, por sua vez, também poderia fortalecer o dólar e afetar as taxas de juros de outros países pelo mundo.
Os temores com as tarifas também acabaram mascarando o efeito positivo vindo pelo adiamento da retomada do tarifaço, anunciado por Trump na última segunda-feira. A nova data ficou para 1º de agosto.
A suspensão de 90 dias das tarifas impostas pelo republicano estava prestes a expirar nesta quarta-feira (9), e o baixo número de acordos firmados até o momento continuava a gerar preocupação. A maioria dos países ainda tenta evitar as novas taxas, que podem variar de 10% a 50%.
Do lado dos EUA, apesar da promessa de Trump de firmar “90 acordos em 90 dias”, Washington fechou apenas pactos limitados com o Reino Unido e o Vietnã. A União Europeia, um importante parceiro comercial do país, negocia para evitar sobretaxas em setores como agricultura, tecnologia e aviação, mas ainda enfrenta impasses.
Nova ofensiva contra o Brics
Além disso, na terça-feira (8), Trump também afirmou que os países do Brics vão receber uma tarifa de 10% “muito em breve”. Isso porque, segundo o republicano, o bloco estaria tentando prejudicar os UEA e substituir o dólar como moeda padrão global.
“Se eles quiserem jogar esse jogo, tudo bem, mas eu também sei jogar”, afirmou Trump a jornalistas durante uma coletiva na Casa Branca. “Qualquer país que fizer parte do Brics receberá uma tarifa de 10%, apenas por esse motivo”, disse, acrescentando que isso deve ocorrer “muito em breve”.
Em resposta, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou que os países do Brics são soberanos. “Não aceitamos intromissão de quem quer que seja”, disse Lula. “Nós defendemos o multilateralismo”.
O republicano já havia antecipado a medida no domingo (6), indicando que aplicaria uma tarifa adicional de 10% a países que, segundo ele, “se alinharem às políticas antiamericanas do Brics”.
Trump não esclareceu o que considera “políticas antiamericanas” em sua publicação. Autoridades do governo americano dizem que não há um decreto sendo escrito e tudo depende dos próximos passos do bloco.
A ameaça gerou reações imediatas. A China criticou o uso de tarifas como instrumento de coerção, enquanto a Rússia destacou que o Brics “nunca atuou contra terceiros”. A África do Sul, por sua vez, afirmou que o bloco busca apenas reformar a ordem multilateral global, sem intenções de confronto.
A sinalização de Trump aumenta o risco de retaliações cruzadas e gera preocupações nos mercados sobre um possível novo ciclo de tensões comerciais globais, com impactos potenciais sobre a inflação e o crescimento econômico.
O que esperar para os juros?
Diante dos temores com eventuais efeitos das tarifas na inflação norte-americana, investidores também aguardam a divulgação da ata da última reunião do Fed. A expectativa é que o documento dê novas pistas sobre o que o banco central dos EUA deve fazer com os juros do país.
“Considerando que a atividade econômica permanece relativamente aquecida, acreditamos que o Fed aguardará pelo menos até setembro para avaliar se o aumento das tarifas de importação sobre produtos chineses terá algum impacto significativo na inflação dos preços ao consumidor”, afirmaram analistas da XP em relatório.
Na semana passada, o presidente da instituição, Jerome Powell, voltou a afirmar que a instituição pretende “esperar e obter mais informações” sobre os impactos das tarifas na inflação antes de reduzir as taxas de juros, ignorando mais uma vez as pressões de Trump por cortes imediatos.
O presidente norte-americano tem criticado Powell publicamente sobre a condução da política monetária dos Estados Unidos, e chegou a chamá-lo de “burro” e “teimoso” recentemente.
Os desdobramentos do IOF
No Brasil, as atenções continuam voltadas para os desdobramentos do IOF. Na véspera, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, junto a outros membros do governo, se reuniram com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, para discutir uma possível solução para o impasse em torno do decreto que elevou as alíquotas do imposto.
Segundo Motta, a reunião foi “boa” e “serviu para retomar o diálogo”. “Agora, vamos seguir conversando para encontrar um caminho. Sem definição ainda”, afirmou o presidente da Câmara ao blog do Gerson Camarotti.
A reunião acontece para retomar o diálogo entre as duas partes antes da audiência de conciliação marcada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Moraes suspendeu, simultaneamente, três decretos presidenciais que elevavam as alíquotas do IOF e um decreto do Congresso que anulava os aumentos.
Questionado pelo blog se o governo vai insistir em manter o decreto do IOF, Motta disse que ainda não há uma solução, e sinalizou que novos encontros serão agendados.
“Não ficou resolvido, penso que as próximas conversas devem ir ajudando a desenhar um caminho”, disse Motta.
*Com informações da agência de notícias Reuters.