Disputa baseada na rejeição pode não funcionar na eleição de 2026, avaliam ministros do governo, que temem força de Tarcísio

Disputa baseada na rejeição pode não funcionar na eleição de 2026, avaliam ministros do governo, que temem força de Tarcísio


Os números da pesquisa Quaest divulgada nesta quinta-feira (5) sobre a eleição presidencial em 2026 revelam uma preocupação que já existia no núcleo do governo: de cenário desafiador e disputa extremamente difícil.
Ministros do governo ouvidos pelo blog avaliam que a disputa de rejeição — que favoreceu Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022 — pode não funcionar mais se a direita se unificar em torno de um nome competitivo.
Esses mesmos interlocutores veem uma tendência de desgaste crescente da imagem do presidente em face das últimas crises, como a da fraude no INSS e a da alta no IOF (veja lista abaixo).
Quaest: Lula empata com Bolsonaro e outros nomes em eventual 2º turno
Essas sucessivas crises no governo custaram a queda da popularidade do presidente e um aumento da rejeição.
Segundo a pesquisa Quaest desta quarta (4), a desaprovação ao governo Lula atingiu 57% dos eleitores brasileiros.
Ao passo que, nesta quinta, um outro recorte da pesquisa trouxe que 66% dos brasileiros são contra a candidatura do presidente Lula à reeleição em 2026,
Dessa forma, o governo está com dificuldade de emplacar uma agenda positiva.
Ainda segundo integrantes do alto escalão do Planalto, o ambiente é de preocupação real, com reconhecimento de que será a eleição mais difícil da trajetória política de Lula.
Dados da pesquisa Quaest desta quinta-feira (5).
Arte/g1
Tarcísio preocupa mais que Michelle
A principal preocupação no momento, conforme relataram ministros à reportagem, é com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Apesar de ainda ser relativamente pouco conhecido nacionalmente, ele já apresenta intenção de voto elevada entre quem o conhece, o que o torna um nome com alto potencial de crescimento (veja tabela acima).
O diretor da Quaest, Felipe Nunes, mencionou nesta quinta que os nomes apontados como alternativas a Bolsonaro têm crescido porque eles têm se tornado mais conhecidos.
“O desconhecimento do Tarcísio, por exemplo, saiu de 45% para 39% em 5 meses (-6). Caiado foi de 68% para 62% (-6), Ratinho de 51% para 48% (-3) e Zema de 62% para 60% (-2)”, afirmou Nunes.
A avaliação no Planalto é de que Tarcísio tem menor rejeição que outros nomes do campo dos apoiadores do ex-presidente Bolsonaro, como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL), que apresenta, na avaliação do núcleo do governo, rejeição considerada “proibitiva” mesmo entre eleitores mais à direita.
Nos bastidores, o receio é que o ex-presidente Jair Bolsonaro, inelegível até 2030, faça uma “escolha racional” e apoie um nome mais competitivo, como Tarcísio. Nesse cenário, a união da direita tornaria a disputa mais difícil para Lula já no primeiro turno.
Fragmentação como trunfo
Por outro lado, o governo também trabalha com um cenário alternativo — a fragmentação da direita, com candidaturas simultâneas como a de Eduardo Bolsonaro, Romeu Zema (Novo), Michelle Bolsonaro (PL) e outros nomes.
Esse desdobramento, segundo ministros, beneficiaria Lula no primeiro turno, ao dividir o campo adversário e reduzir o risco imediato de derrota.
Ainda assim, os dados da Quaest mostram que o presidente empata tecnicamente com todos os principais nomes da oposição, o que nunca havia ocorrido desde o início de seu terceiro mandato.
Além de Bolsonaro, Lula está numericamente empatado com Tarcísio, Michelle, Eduardo Leite e Ratinho Júnior.
Esgotamento da imagem
Outro ponto que chama a atenção dentro do governo é o possível esgotamento da imagem de Lula. A pesquisa mostra que 66% dos entrevistados avaliam que ele não deveria se candidatar novamente em 2026. Para aliados do presidente, esse é um dos dados mais duros do levantamento.
A leitura é de que a dificuldade do governo em emplacar uma agenda positiva tem alimentado a insatisfação popular. As crises dos últimos meses reforçaram a maré negativa como:
fiscalização do PIX
inflação dos alimentos
fraude no INSS
alta IOF
No caso do IOF, a crise começa a ser percebida agora pela população, mas o governo tenta reverter em parte.
Máquina do governo e esperança
Apesar do diagnóstico preocupante, o núcleo do governo não considera o cenário perdido. Há uma aposta na força da máquina federal, na reversão da agenda negativa e em uma estratégia de comunicação mais eficaz.
Para ministros próximos a Lula, ainda há tempo para recuperar apoio popular e tornar o presidente mais competitivo na reta final da campanha.