Depoimento de Bolsonaro: veja argumentos do ex-presidente contra acusações de golpe que pesam contra ele

O ex-presidente Jair Bolsonaro prestou depoimento nesta terça-feira (10) ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), como réu no processo que apura a tentativa de golpe de Estado após a eleição de 2022. Bolsonaro é apontado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como o líder da trama que pretendia impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
Na oitiva, o ex-presidente negou as principais acusações, buscou contextualizar reuniões com militares, admitiu exageros na retórica contra o sistema eleitoral e afirmou que não teve qualquer envolvimento com planos ilegais. Veja os principais pontos de sua defesa:
1. Reuniões com militares: ‘Busca por alternativa constitucional’
Bolsonaro reconheceu que houve encontros com integrantes das Forças Armadas após o resultado da eleição, mas alegou que não tratavam de golpe, e sim de hipóteses dentro das regras do jogo democrático.
“As conversas eram bastante informais. Não era nada proposto aqui, vamos decidir. Era conversa informal para ver se existia alguma hipótese de um dispositivo constitucional para a gente atingir o objetivo que não foi atingido no TSE. Isso foi descartado na segunda reunião.”
“Tratamos de GLO, dos caminhoneiros em Belém, sobre o que poderia acontecer com a multidão em frente aos quartéis. Falou-se em possibilidades dentro da Constituição, jamais saindo das 4 linhas.”
“Em hipótese alguma [o comandante Garnier colocou tropas à disposição]. Se fôssemos prosseguir com um estado de sítio, as medidas seriam outras.”
2. Ameaça de prisão: ‘Em nenhum momento’
Bolsonaro foi taxativo ao negar que tenha sido alvo de ameaça de prisão, afastando a tese de que tenha tramado qualquer plano por medo de ser detido.
“As Forças Armadas, missão legal dada é cumprida. Missão ilegal não é cumprida. Em nenhum momento alguém me ameaçou de prisão.”
3. Acampamentos golpistas: Braga Netto fazia o elo
Segundo o ex-presidente, ele estava recluso após a derrota nas eleições e quem fazia a ponte com os manifestantes era o general Braga Netto.
“Braga Netto fazia esse elo com os acampamentos. Ele me atualizava, falava que estava tudo tranquilo. Eu ouvia e não falava nada.”
4. Urnas eletrônicas: crítica e arrependimento retórico
Bolsonaro insistiu, sem provas, que o sistema eletrônico de votação é “inauditável” e citou o Paraguai e a Venezuela como exemplos positivos de sistemas com voto impresso. Mas reconheceu que pode ter passado do ponto.
“Se eu exagerei na retórica, devo ter exagerado, com certeza. Mas o meu objetivo sempre foi mais uma camada de proteção para as eleições.”
“Nós temos muita coisa ao nosso lado mostrando que esse sistema que está aí carece de um aperfeiçoamento.”
“É como alguém muito maquiado. Se chover, escorre tudo.”
5. Relação com militares: ‘um vazio’ após perder eleição
Bolsonaro relatou que o período pós-eleição foi marcado por um sentimento de isolamento, e que isso levou a encontros com oficiais das Forças Armadas.
“Conversei sim com militares, de forma isolada, para trocar informações sobre a conjuntura. Porque, ministro, quando você perde uma eleição, é um vazio que o senhor não imagina.”
“A gente conhece os amigos exatamente nesse momento. Pouca gente te procura, o pessoal quer distância. Esse vazio muitas vezes era preenchido com visita e conversa amigável entre eu e alguns oficiais generais das Forças Armadas.”
“O brigadeiro Baptista Jr., a gente conversa com as pessoas depois que dá o poder, ou quando perde o poder. Ele foi cuidar da vida dele. Eu nunca convoquei ninguém, foi convidado.”
6. Tentativa de golpe: ‘Não tinha clima, nem base’
Para Bolsonaro, não havia apoio suficiente para qualquer tentativa de ruptura institucional. Ele negou que estivesse articulando um golpe.
“Não tinha clima, não tinha base minimamente sólida para fazer coisa.”
7. Desculpas a Moraes
Em um dos momentos mais marcantes do depoimento, Bolsonaro pediu desculpas ao ministro Alexandre de Moraes por declarações passadas em que sugeria que ministros do STF teriam recebido propina durante o processo eleitoral.
“Não tem indício nenhum, senhor ministro. Tanto é que era uma reunião para não ser gravada. Um desabafo, uma retórica que eu usei. Se fossem outros três ocupando, teria falado a mesma coisa. Então, me desculpe, não tinha qualquer intenção de acusar de qualquer desvio de conduta os senhores três.”