Compradores nos EUA suspendem embarques de rochas naturais brasileiras após tarifaço de Trump

Espírito Santo é o líder no País em exportação de rochas naturais
Divulgação/ Findes
Empresas brasileiras que exportam rochas naturais para os Estados Unidos começaram a sentir os primeiros reflexos do anúncio da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Exportadores do Espírito Santo, estado que é potência no setor de mármore e granito, relatam que, embora os pedidos não tenham sido cancelados, compradores norte-americanos pediram a suspensão imediata dos embarques.
“Os clientes estão pedindo para não embarcar. Eles não estão cancelando os pedidos ainda, mas pediram para não embarcar. Querem uma posição primeiro para entender se as tarifas serão realmente aplicadas a partir do dia 1º de agosto”, explicou Tales Machado, presidente da Associação Brasileira de Rochas Naturais (Centrorochas) e empresário do setor.
Perda de competitividade
Tales explicou que uma das maiores preocupações do setor de rochas é que as tarifas brasileiras fiquem mais altas que as aplicadas a outros países concorrentes diretos, o que colocaria o produto capixaba em desvantagem competitiva.
“O grande medo nosso é a gente ter uma taxação maior que os nossos concorrentes diretos que são Itália, Turquia, Índia e China”, completou.
Tentativas de reversão
Diante do cenário, uma articulação em diversas frentes tenta evitar a aplicação da medida ou mitigar seus impactos.
Na segunda-feira (14), o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), se reuniu com o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, pasta que trata da política de exportações do país. O governo federal decidiu criar um comitê para ouvir os setores mais atingidos pela tarifa.
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Segundo o presidente do Centrorochas, entidades norte-americanas ligadas ao setor também estão se mobilizando.
“A industrialização do produto final é realizada lá. Então tem uma cadeia produtiva que depende desse material também pra trabalhar. Nós temos uma proximidade muito grande com o setor de rochas dos EUA e eles vão se reunir com o governo deles para tentar reverter essa tarifa”.
EUA é o maior comprador de rochas do ES
Os Estados Unidos é o principal importador de rochas naturais do Espírito Santo. Somente em junho de 2025, foi responsável por 62,4% de todas as exportações do setor. Outros compradores internacionais, como a China, são responsáveis por apenas 17,5% das rochas produzidas no estado.
Percentual de exportação de rochas ornamentais para os Estados Unidos:
Janeiro – 69%
Fevereiro – 68,4%
Março – 63,3%
Abril – 63,5%
Maio – 69,8%
Junho – 62,4%
Exportação capixaba é expressiva
O Espírito Santo é o maior exportador de rochas naturais do Brasil. De janeiro a junho de 2025, foi responsável por 82,85% de tudo o que foi exportado do segmento no país.
Atualmente, a maioria das exportações é de chapas polidas, que são placas de pedras, como mármore e granito, que passaram por um processo de polimento.
Chapas polidas são os principais materiais exportados para os Estados Unidos
Luiz Gonçalves / TV Gazeta
Essas peças têm um alto valor agregado e passam por um acabamento realizado por indústrias capixabas. Os municípios que mais exportam essas peças são Serra, Cachoeiro de Itapemirim, Barra de São Francisco, Castelo e Atílio Vivácqua.
O presidente do Centrorochas explicou ainda que outros mercados têm mais interesse em blocos, o que representa um retrocesso, uma vez que o beneficiamento das rochas envolvem mais uma cadeia de produção.
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“As indústrias do Espírito Santo estão entre as melhores indústrias do mundo de rocha natural. Os melhores equipamentos do mundo estão aqui. Então não tem como a gente voltar a vender bloco. É andar pra trás”, completou.
Apesar da busca por alternativas, o setor considera difícil substituir o mercado norte-americano no curto prazo. “A economia dos Estados Unidos é um negócio muito grande. Se a gente substituísse os Estados Unidos, não seria um processo fácil. A economia deles é muito forte”, concluiu.
Federação das indústrias do ES acompanha agenda nacional
O posicionamento da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) segue a da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Na última segunda-feira (14), o presidente da Findes, Paulo Baraona, participou de uma agenda nacional que discutiu o pedido de um adiamento mínimo de 90 dias na aplicação das novas tarifas.
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