Comissão da Câmara aprova convocação de ministro para explicar visita de Lula a Cristina Kirchner

Presença do ministro Mauro Vieira, das Relações Exteriores, é obrigatória; ex-presidente da Argentina está em prisão domiciliar e recebeu Lula durante cúpula do Mercosul, em Buenos Aires. Lula visita Cristina Kirchner, que está em prisão domiciliar
A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (9), por 20 votos a 8, a convocação do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para que ele explique a visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez à ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner.
A visita aconteceu na semana passada, enquanto Lula participava em Buenos Aires da cúpula do Mercosul, grupo que reúne Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia.
Cristina Kirchner está em prisão domiciliar e precisou obter autorização da Justiça argentina para receber Lula em sua casa em Buenos Aires.
Conforme o requerimento aprovado, a visita configurou “gesto político e ideológico” e pode “comprometer” a credibilidade do Brasil em nível internacional.
“O Itamaraty deve pautar-se pela sobriedade, neutralidade, legalidade e foco no interesse nacional, jamais por solidariedades seletivas motivadas por afinidades ideológicas”, diz o requerimento aprovado.
Lula visitou Cristina Kirchner, que está em prisão domiciliar
Reprodução/X
A GloboNews procurou o Ministério das Relações Exteriores sobre o tema e aguardava resposta até a última atualização desta reportagem.
Embora a agenda de Lula na Argentina tenha incluído o encontro com Cristina Kirchner, não previu encontro entre ele e o presidente argentino, Javier Milei. Crítico de Lula, Milei é aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro e, quando esteve no Brasil, também não se encontrou com o petista.
O requerimento aprovado nesta quarta-feira pela comissão critica o fato de Lula não ter se reunido com Milei em Buenos Aires durante o Mercosul.
“A visita não integrou a agenda diplomática oficial do Brasil e tampouco foi acompanhada de encontro bilateral com o atual presidente argentino, Javier Milei, chefe de Estado democraticamente eleito e interlocutor legítimo do Brasil nas relações bilaterais”, diz o documento.
A Argentina é o principal parceiro comercial do Brasil na região, e Lula e Milei se encontraram somente em fóruns internacionais, jamais de maneira reservada.
Divergências entre os parlamentares
Durante a sessão, o deputado Alencar Santana (PT-SP) se posicionou de forma contrária à aprovação do requerimento, afirmando que a comissão se pauta por convocações “sem sentido” e “sem propósito”.
“O governo se manifesta ‘não’, pela presença recente do ministro nesta comissão. […] Esta comissão tenta abusar com convocações repetidas, sem sentido, sem propósito para simplesmente tumultuar o cenário político”, declarou.
Também na sessão, o deputado Fausto Pinato (PP-SP) disse considerar uma “atitude horrível” a visita de Lula a Cristina Kirchner, mas acrescentou avaliar que a comissão estava cometendo um “erro” ao aprovar a convocação de Mauro Vieira.
“Em que pese essa atitude horrível do presidente Lula de visitar a ex-presidente, acho outro erro também, a gente tá errado nisso aí, para que fazer isso [ aprovar a convocação]? Entendeu? O ministro Mauro Vieira é auxiliar do presidente. Não tem muito o que falar. Então, vejo assim: convocar um ministro para falar de uma atitude do presidente da República em relação à Cristina Kirchner? Não vejo a necessidade de convocar. Ele vai falar o quê?”, declarou Pinato.
Em resposta a Pinato, o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) disse que a convocação foi motivada pelo fato de Mauro Vieira ter acompanhado Lula na visita à ex-presidente da Argentina.
“O ministro esteve junto com o presidente, saiu na foto junto e houve muita reclamação, até mesmo dentro do Itamaraty, para a imprensa pela participação do ministro no episódio. Não é em virtude da visita do presidente. No fundo, acho horrível o que ele [Lula] fez, mas ele faz o que quer, visita quem quer, pega mal para o país. Agora, ele estar ao lado do ministro Mauro Vieira, chefe da diplomacia, fazendo um ataque ao Poder Judiciário argentino foi o que motivou a convocação”, respondeu.