Bolsonaro diz que ‘teve que entubar’ derrota para Lula, mas evita falar em fraude

Ex-presidente fala em tristeza com resultado da eleição, evita falar em fraude e tenta minimizar reunião com militares sobre medidas golpistas. Bolsonaro demonstra tristeza e diz que não quis ‘entubar’ o resultado da eleição
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mostrou mais inconformismo do que convicção ao falar sobre o resultado das eleições de 2022 em seu depoimento ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes nesta terça-feira (10). Segundo ele mesmo, “teve que entubar” a derrota para o presidente Lula (PT).
Disse ainda que ficou sozinho, que “todo mundo some” após derrota na eleição, e deu a entender que apenas os militares se mantiveram ao seu lado.
Mas não houve, no depoimento, uma afirmação clara de que a eleição foi fraudada. Bolsonaro fala de crítica ao sistema, repete que há anos questiona as urnas, cita políticos que também criticaram o modelo — como Flávio Dino e Carlos Lupi —, mas para de responder antes de dizer algo que poderia produzir prova contra si mesmo.
No máximo, admite que uma projeção um documento que, segundo Mauro Cid e Freire Gomes, previa a prisão de ministros e a convocação de novas eleições, que foi exibido numa reunião com os comandantes militares, mas tenta minimizar o conteúdo e o peso do encontro.
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O ponto central da acusação é justamente esse: segundo o Ministério Público, não haveria 8 de janeiro sem a construção da mensagem de que o sistema eleitoral é fraudulento, iniciada por Bolsonaro ainda em julho de 2021. A crítica que antes era retórica teria virado estratégia.
O ex-presidente tenta argumentar que criticar o sistema é legítimo. Mas a denúncia diz que ele foi além: alimentou o inconformismo, não aceitou a alternância de poder — e é por isso que está hoje sendo investigado.
No fim das contas, ele não diz que a eleição foi roubada. Diz que foi difícil aceitar. Que doeu. Que ficou triste. Que teve que “entubar”. Mas não banca a fraude. Ele jogou mais para a emoção (a tristeza), do que para a razão (o planejamento de um golpe).