Às vésperas do tarifaço de Trump, governo Lula conduz conversas nos bastidores com representantes dos EUA e empresários

Às vésperas do tarifaço de Trump, governo Lula conduz conversas nos bastidores com representantes dos EUA e empresários


Às vésperas de o tarifaço anunciado pelos Estados Unidos contra produtos brasileiros entrar em vigor, representantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) relataram à Globonews ter iniciado em Brasília e em Washington conversas de bastidor com integrantes do governo americano e com empresários em busca de uma aproximação.
Segundo o anúncio feito pelo presidente Donald Trump, a tarifa de 50% entrará em vigor a partir de agosto, o que tem gerado grande preocupação nos mais diversos setores da economia que exportam produtos para o mercado americano.
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A Confederação Nacional da Indústria (CNI), por exemplo, divulgou um estudo segundo o qual as projeções dão conta de que, se entrar em vigor, o tarifaço pode reduzir em R$ 52 bilhões as exportações brasileiras, gerando uma queda de 0,16% no Produto Interno Bruto (PIB) e o fechamento de 110 mil postos de trabalho.
De acordo com os ministérios das Relações Exteriores e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o governo Lula já enviou duas cartas a integrantes do governo Trump, mas não obteve respostas formais por parte do secretário de Comércio, Howard Lutnik, e do representante comercial da Casa Branca, Jamieson Greer.
Conversas informais
Nesse cenário, integrantes do governo brasileiro decidiram conduzir conversas nos bastidores e, segundo relatos de diplomatas obtidos pela Globonews, as conversas têm se intensificado nos últimos dias.
A avaliação, explicaram, é que esses canais podem ter mais efetividade que encontros formais e públicos.
A articulação de bastidor, neste momento, busca uma aproximação entre os dois governos para que, mais adiante, os dois países possam negociar a tarifa de 50%.
Em entrevista à Globonews, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que já foram feitas mais de dez rodadas de negociações e que o interesse do Brasil é seguir apostando na negociação.
O próprio chanceler deixou claro na entrevista, contudo, que o Brasil tem instrumentos à disposição, entre os quais recorrer à Organização Mundial de Comércio (OMC) ou utilizar a chamada Lei da Reciprocidade Econômica, aprovada pelo Congresso Nacional, sancionada e regulamentada por Lula.
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Empresários, contudo, procuraram o governo Lula nos últimos dias pedindo que o Executivo insista nas negociações e evite retaliar a economia americana, o que poderia ser ainda mais prejudicial.
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Getty Images via BBC
Comércio com Ásia e Europa
No contexto de tarifaço anunciado por Trump, o ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos Rubens Ricupero afirmou em documento divulgado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) avaliar que o Brasil precisa ampliar o comércio com países da Europa e da Ásia e não adotar uma política de “olho por olho” contra o presidente americano.
O documento, intitulado “Brasil e Estados Unidos na Era Trump 2.0” é assinado por Ricupero, conselheiro Emérito do Cebri, e por Ariane Costa, especialista em Geopolítica e Comércio Internacional da instituição.
“Reciprocidade não significa adotar uma lógica de ‘olho por olho’. O Brasil não está obrigado a reagir de forma automática nem no campo nem nos termos definidos pelo interlocutor. Diante da ameaça do ‘tarifaço’ de 50%, o governo deve considerar a ampla gama de interesses econômicos norte-americanos que podem, legitimamente, ser objeto de pressão com instrumento de negociação”, afirmam Ricupero e Ariane Costa no documento.
Diante disso, defendem que o país avalie as seguintes estratégias:
Fortalecer a articulação direta com a Câmara Americana de Comércio para o Brasil;
Aprofundar as relações com a Europa;
Aprofundar e diversificar a relação com a Asia;
Coordenar posições conjuntas e promover propostas concretas que visem à reforma e ao fortalecimento da OMC.
“É imprescindível que o Brasil mantenha uma política externa ativa, voltada para a contenção de danos. Isso passa pela manutenção de canais diplomáticos abertos e diversificados, especialmente nos níveis ministerial, legislativo, subnacional e por meio do setor privado”, diz o documento.