Após interrogatório, Braga Netto pede a Moraes para sair da cadeia

Defesa alega fim da fase de instrução e ausência de riscos para manter prisão de ex-ministro, acusado de integrar núcleo do plano golpista de 2022. General Braga Netto diz que não entregou dinheiro para financiar plano golpista
A defesa do general Walter Braga Netto pediu ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a revogação da prisão preventiva do ex-ministro, após a conclusão do interrogatório dele nesta terça-feira (10).
No documento, os advogados argumentam que, com o fim da fase de instrução processual, não há mais motivo para manter a prisão. Eles citam o artigo 316 do Código de Processo Penal, que prevê a revisão da prisão preventiva diante da ausência de fundamentos para sua continuidade.
A defesa também destacou que o próprio ministro Alexandre de Moraes, durante a audiência, revogou a proibição de contato entre os réus, incluindo Braga Netto, o que indicaria uma redução no risco de interferência nas investigações.
“Requer-se a revogação da prisão preventiva imposta ao Gen. Braga Netto, ainda que com a imposição de medidas cautelares alternativas”, diz o pedido encaminhado ao STF.
Braga Netto é um dos oito réus do chamado “núcleo crucial” da tentativa de golpe, segundo a Procuradoria-Geral da República. Ele foi ouvido por videoconferência por estar preso desde fevereiro.
Depoimento na ação do golpe
O general Walter Souza Braga Netto negou, nesta terça-feira (10), qualquer envolvimento em tentativas de intimidar chefes das Forças Armadas para forçá-los a aderir a um plano golpista.
Segundo denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), o então candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro teria coordenado ataques a comandantes militares que resistiram a apoiar a ruptura institucional. “Jamais ordenei ou coordenei ataques a nenhum dos chefes militares”, declarou Braga Netto. “Se eu tivesse que falar alguma coisa, eu falaria pessoalmente com eles.”
Preso no Rio de Janeiro, o general foi interrogado por videoconferência pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), acompanhado de dois advogados. Ele foi o último dos oito réus do chamado “núcleo crucial” a prestar depoimento.
O relator do processo, ministro Alexandre de Moraes, questionou Braga Netto sobre uma suposta ordem para pressionar os ex-comandantes Freire Gomes (Exército) e Baptista Júnior (Aeronáutica). Moraes mencionou uma mensagem atribuída ao general em que ele teria escrito: “Para sentar o pau nele, preservar o almirante Garnier, mas também criticar o brigadeiro Baptista Júnior.”
Braga Netto respondeu: “Essas mensagens no inquérito estão fora de contexto. Eu não me lembro de ter enviado essa mensagem. Posso confirmar que jamais ordenei ou coordenei ataques a nenhum dos chefes militares.”
Dinheiro em caixa de vinho
Sobre o repasse de dinheiro a militares do grupo “kids pretos”, apontados como responsáveis por um plano para assassinar Lula, Alckmin e Moraes, o general disse acreditar que os valores se referiam a gastos de campanha remanescentes.
Segundo delação de Mauro Cid, o general teria autorizado a entrega de uma caixa de vinho com dinheiro vivo aos militares. “O Cid veio atrás de mim e perguntou se o PL podia arrumar algum dinheiro. Eu virei para ele e falei: ‘Procura o tesoureiro, que é o Azevedo’. Eu deixei com o Azevedo, porque eu não sabia o que era”, afirmou Braga Netto.
Ele alegou não ter solicitado recursos a empresários nem feito qualquer entrega em espécie. “Eu não tinha dinheiro, não tinha contato com empresários, eles estavam mais interessados no Bolsonaro.”
Plano para assassinato de autoridades
Braga Netto também negou conhecimento sobre os planos batizados de “Punhal Verde e Amarelo” e “Copa 2022”, que segundo as investigações previam o assassinato de autoridades caso o golpe se concretizasse. “Ministro, eu nunca tinha ouvido falar dessas duas operações”, disse.