Ameaça de sanções da Otan é ‘totalmente descabida’, e Brasil não pretende dialogar com organização, diz Mauro Vieira

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou nesta quinta-feira (17) em entrevista ao Estúdio I, da GloboNews, que a ameaça de sanção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ao Brasil é “totalmente descabida” e que o país não pretende dialogar com a entidade nesse cenário.
No último dia 15, o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, disse que países como Brasil, China e Índia podem ser alvos de sanções secundárias caso mantenham relações comerciais com a Rússia – os quatros países integram o Brics.
Questionado se viu uma interferência da Otan sobre o Brasil e se pretende dialogar com a entidade, Mauro Vieira declarou:
“Dialogar com a Otan, não. Nós não fazemos parte. A Otan, é preciso que fique claro: é uma organização militar, Organização do Tratado do Atlântico Norte. O Brasil não é parte nem os outros dois países que o secretário-geral mencionou. Eu acho uma declaração dele totalmente descabida, fora de propósito, fora da área de competência dele. Ele tem que tratar da aliança militar.”
A Otan é uma aliança militar composta por 31 países da América do Norte e da Europa, criada com o objetivo de garantir a segurança coletiva entre seus membros. Sanções secundárias são penalidades aplicadas a países ou empresas que mantenham relações comerciais com um país já sancionado pela entidade, neste caso, a Rússia.
Ainda na entrevista à Globonews, o chanceler brasileiro ironizou a ameaça de Rutte, afirmando que “talvez” o chefe da Otan não saiba que o organismo tem caráter de aliança militar e não tem alcance comercial.
“Talvez ele esteja mal-informado, não saiba que é uma organização militar, não tem alcance comercial. Sobretudo porque, se for assim, países membros da Otan que são membros da União Europeia – e que comerciam com a Rússia e compram grandes quantidades de petróleo e de gás – teriam que ser também sancionados”, afirmou o ministro.
Nos bastidores, diplomatas avaliaram num primeiro momento que o Itamaraty não deveria se pronunciar sobre o tema, pois o Brasil não faz parte da Otan, e o entendimento é que a organização não tem autoridade para determinar com quem o Brasil deve manter relações comerciais.
Além disso, reforçaram esses diplomatas que a posição tradicional do Brasil é aderir somente a sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), o que não é o caso das sanções da Otan à Rússia.
Tarifaço de Trump
A ameaça de sanção ao Brasil pelo secretário-geral da Otan acontece no mesmo momento em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que a partir de agosto haverá uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros vendidos no mercado americano.
Trump alegou erroneamente que a relação comercial entre os dois países é desfavorável aos Estados Unidos, mas, na verdade, os dados oficiais mostram que a chamada balança comercial é favorável aos americanos, isto é, os EUA mais exportam para o Brasil que importam, em valor agregado.
Questionado nesta quinta-feira se avalia que os Estados Unidos podem ter atuado junto à Otan para que a ameaça de Rutte ao Brasil fosse feita, Mauro Vieira disse que a declaração foi “tão descabida” que “deve ter partido voluntariamente do secretário-geral da Otan”.
“As questões comerciais, cada país – e o Brasil faz assim – trata bilateralmente ou na OMC. Depois, esse tipo de ameaça, não acho que corresponda a uma ameaça comercial dentro de uma organização militar”, declarou Mauro Vieira à Globonews.
De forma reservada, diplomatas têm ironizado nos últimos dias o fato de o secretário-geral da Otan ter chamado Trump de “papai”.