‘O Brasil, em 1988, deu um basta à possibilidade de golpismo’, diz Moraes

‘O Brasil, em 1988, deu um basta à possibilidade de golpismo’, diz Moraes


Ministro do STF Alexandre de Moraes participa da 23ª Semana Jurídica do TCE-SP
Reprodução
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moares disse nesta segunda-feira (11), em uma palestra durante um evento jurídico realizado em São Paulo, que, com a promulgação da atual Constituição Federal, “o Brasil, em 1988, deu um basta à possibilidade de golpismo”.
O Brasil, em 1988, pela Assembleia Nacional Constituinte, deu um basta a essa possibilidade de golpismo. O Brasil deu um basta a essa possibilidade de intromissão de Forças Armadas, sejam oficiais ou paraoficiais, na política brasileira. O Brasil deu um basta, na Constituição de 1988, à ideia de personalismo, populismo.
O ministro ponderou que no Brasil, assim como na América Latina como um todo, “o problema é que o Poder Legislativo sozinho jamais conseguiu fazer frente ou colocar freios ao populismo armado do Executivo”, e que, por isso, o legislador em 88 “fortaleceu o terceiro ramo de governo: o Judiciário”.
“A partir de 88, o legislador constituinte concedeu independência e autonomia ao Judiciário, autonomia financeira, administrativa, funcional e aos seus membros plena independência de julgar de acordo com a Constituição, com legislação, sem pressões internas, externas ou qualquer tipo de pressão”, disse.
Ele afirmou ainda que, embora a Carta Magna tenha trazido “avanço institucional e fortalecimento das instituições e independência do Poder Judiciário, não significa um ‘Mundo de Alice’, céu de brigadeiro, tivemos dois impeachments nesse período”.
“É o único país do mundo que sofreu dois impeachments de um presidente de direita e uma presidente de esquerda”, disse.
E acrescentou que “tivemos uma tentativa de golpe de estado em 8 de janeiro de 2023, e as instituições reagiram. As instituições souberam atuar dentro do que a Constituição estabeleceu”, disse.
Para ele, o desafio para o futuro é a questão da segurança no seu triplo aspecto: “segurança pública (não há um país no mundo que consiga evoluir na sua vida cultural, social, econômica com uma grande insegurança pública), segurança jurídica e segurança institucional”. “Esse é o grande desafio de todas as instituições se nós olharmos para frente”, disse.
Ataque à democracia
Em sua palestra, Moraes destacou que, de um modo geral, a democracia vem sendo cada vez mais atacada desde a redemocratização do mundo no pós-guerra por um “novo populismo extremista”
“Não podemos fingir que não há bases que permitiram esse discurso antidemocrático florescer e aí é que as instituições devem se fortalecer para saber como atacar esses problemas de base”, afirmou.
Segundo ele, o populismo extremista encontrou um “terreno fértil” porque a democracia não conseguiu equacionar o problema de distribuição de renda. “A crítica encontrou um terreno fértil para florescer”, observou.
Tivemos uma tentativa de golpe de estado no dia 8 de janeiro de 2023. As instituições reagiram, souberam atuar dentro do que a Constituição estabeleceu.
O magistrado participou de uma cerimônia do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) em alusão ao Dia do Advogado, celebrado nesta segunda.
Moraes lembrou que a data marca os 198 anos de criação dos dois primeiros cursos jurídicos no Brasil, em São Paulo e no Recife, e que, nesse período, “o Brasil vem demonstrando, entre avanços e retrocessos, mas vem demonstrando, que esse ato de confiança do imperador Dom Pedro [de criar os cursos de Direito] deu certo”.
O evento faz parte da 23ª Semana Jurídica, tradicional evento no campo do Direito e da Administração Pública que acontece até sexta-feira (15) com diversas palestras na área.
A abertura solene foi conduzida pelo presidente do TCE-SP, Conselheiro Antonio Roque Citadini, com a presença de autoridades.