Diplomatas defendem acerto antes de eventual telefonema para que Trump não repita com Lula o que fez com Zelensky

Diplomatas defendem acerto antes de eventual telefonema para que Trump não repita com Lula o que fez com Zelensky


Diplomatas ouvidos nesta terça-feira (29) pela Globonews defenderam que um eventual telefonema entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, seja acertado previamente entre emissários do Palácio do Planalto e da Casa Branca, evitando improvisos.
Há um temor de que, num eventual telefonema, Donald Trump repita com Lula o que fez recentemente com os líderes da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
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O eventual telefonema entre Lula e Trump passou a ser defendido por integrantes da comitiva de senadores que está em Washington, nos Estados Unidos, tentando buscar o apoio de parlamentares e empresários americanos.
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Trump e Lula
AFP
“Sobre essa pressão de alguns setores por um telefonema entre os presidentes, sem preparação prévia: telefonema entre presidentes não se improvisa, requer uma preparação prévia. Em casos de crise como a atual, mais ainda. Quando não há costura prévia, bem amarrada, para visita ou telefonema, acontecem cenas como a do Zelensky e do Ramaphosa no Salão Oval recentemente”, afirmou um diplomata, sob reserva.
“Ambos os presidentes já deixaram aberta a possibilidade em declarações à imprensa, mas improvisação e voluntarismo aqui não cabem”, acrescentou.
Segundo um integrante do alto escalão do Itamaraty, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, está em Nova York (onde participou de um evento sobre a Palestina) e fez chegar a autoridades americanas a informação de que, se um integrante do governo Trump aceitar recebê-lo, ele vai a Washington negociar as tarifas.
Até a publicação desta reportagem, contudo, ainda não havia confirmação oficial de uma agenda de Mauro Vieira em Washington. Entretanto, diplomatas disseram que, nos bastidores, as conversas seguem acontecendo.
“Nossa posição quanto à negociação está clara, de que estamos prontos a negociar tarifas, e isso há dias, enquanto houver silêncio do lado de lá temos que insistir nisso, e a viagem do ministro é mais uma reiteração dessa nossa posição”, afirmou um interlocutor do Itamaraty.
No Palácio do Planalto, auxiliares de Lula disseram, também de forma reservada, que Trump tem se mostrado um presidente “imprevisível” em encontros com outros líderes mundiais e que essa situação poderia se repetir com Lula sem um acerto prévio de um roteiro estabelecido em conjunto pela Casa Branca e pelo próprio Planalto.
País aceita negociar tarifas, não soberania
Desde que Trump anunciou a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros vendidos no mercado americano, Lula e integrantes do governo têm destacado que o Brasil aceita negociar a questão comercial, mas rejeita discutir temas relacionados à soberania do país.
Numa carta endereçada a Lula, Trump citou, por exemplo, a situação jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro — réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por crimes como tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito e organização criminosa.
Integrantes do Palácio do Planalto, do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio afirmam que o Brasil já participou de cerca de dez rodadas de negociações com as autoridades dos Estados Unidos, mas ainda não houve um consenso.
“O governo brasileiro, por orientação do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vem buscando negociação com base em diálogo, sem qualquer contaminação política ou ideológica”, informou o MDIC.
“Reiteramos que a soberania do Brasil e o estado democrático de direito são inegociáveis. No entanto, o governo brasileiro continua e seguirá aberto ao debate das questões comerciais, em uma postura que já é clara também para o governo norte-americano”, acrescentou o ministério.