Entenda como rixas com Trump e com o Congresso deram fôlego a Lula e ao governo

Por que o PIX virou alvo de Trump em investigação comercial contra o Brasil?
O governo Lula vinha enfrentando dificuldades políticas e uma sequência de quedas de popularidade. Mas, nos últimos dias, uma sequência de episódios — o conflito com Donald Trump e o veto ao aumento do número de deputados — abriram margem para o Planalto reagir, recuperar parte da narrativa pública e melhorar seu desempenho nas pesquisas.
Veja abaixo como esses acontecimentos alteraram o ambiente político:
1. Tarifaço de Trump com motivação política
Donald Trump anunciou uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros, alegando que o Brasil está perseguindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O republicano afirmou:
“Taxamos 50% em um caso, o Brasil, porque o que estão fazendo com o ex-presidente é uma desgraça.”
Em carta enviada ao presidente Lula, Trump disse que conheceu Bolsonaro, que o considera um homem honesto, e chamou o julgamento do ex-presidente no STF de “vergonha internacional” e “Caça às Bruxas”.
A fala evidenciou o viés político da medida. Diferentemente de outros países, onde Trump apontou razões comerciais ou de segurança, no caso do Brasil o argumento central foi a suposta perseguição a Bolsonaro.
O fato de aliados e do próprio ex-presidente terem ficado ao lado de Trump desgastou a imagem de Bolsonaro e de seu campo político.
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2. Pix entra no radar do governo americano
Além das tarifas, o governo Trump também colocou o Pix no centro da disputa. A representação enviada aos EUA contra o Brasil mencionou indiretamente o sistema de pagamentos instantâneos, criado pelo Banco Central.
A suspeita do Planalto é que o Pix tenha incomodado grandes empresas do setor financeiro dos Estados Unidos e que esteja sendo usado como justificativa para pressionar o Brasil.
Embora o Pix tenha sido lançado durante o governo Bolsonaro, a gestão atual adotou o sistema como um ativo nacional, e se posicionou fortemente em sua defesa. Hoje, o Pix é usado por mais de 150 milhões de brasileiros e se tornou um símbolo de inclusão e inovação.
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3. Lula eleva o tom contra Trump
Em resposta às falas de Trump e às medidas comerciais, Lula afirmou:
“Se o Trump morasse no Brasil e tentasse fazer aqui o que fez no Capitólio, certamente estaria julgado e preso.”
O presidente também criticou a carta enviada pelo americano:
“A carta é o seguinte: ou dá ou desce. Ou liberta o Bolsonaro porque o filho dele está aqui me enchendo o saco. Liberta meu pai, liberta meu pai.”
Em outro momento, Lula disse que o Brasil responderia de forma civilizada, mas não aceitaria ingerência externa:
“Não é um gringo que vai dar ordem a esse presidente da República.”
4. Veto a aumento de deputados acalma o mercado e opinião pública
Outro movimento que favoreceu o governo foi o veto integral ao projeto que aumentava de 513 para 531 o número de deputados federais.
O texto havia sido aprovado pelo Congresso como alternativa à decisão do STF que determinou a redistribuição das cadeiras com base no Censo de 2022. Mas a solução encontrou resistência popular: 85% dos brasileiros disseram ser contra a medida, segundo a pesquisa Quaest.
Com o veto, o governo evitou desgaste adicional e reforçou a imagem de responsabilidade fiscal. A redistribuição das cadeiras agora caberá à Justiça Eleitoral, sem aumento no total de parlamentares.
5. Queda de braço com o Congresso também ajudou
Lula vinha acumulando derrotas no Congresso e sofrendo críticas por falta de articulação política. Mas, nos bastidores, a opção por vetar o projeto, mesmo com risco de conflito com os partidos do centrão, foi vista como gesto de firmeza.
Ministros da ala política avaliaram que manter o veto era melhor do que assumir o ônus da medida impopular. A pesquisa Quaest reforçou esse cálculo.
Lideranças do centrão já admitem que não há ambiente político para tentar derrubar o veto, o que consolida a vitória do governo neste ponto.
6. Pesquisas refletem alívio para o governo
A nova rodada da pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta semana, mostra melhora nos indicadores de popularidade de Lula. A desaprovação caiu de 52% para 47% e a aprovação subiu de 45% para 49%.
Também houve mudança na percepção sobre o estilo de governar: caiu de 40% para 31% o número dos que veem Lula como mais inclinado ao confronto, e subiu de 50% para 57% os que avaliam que ele busca construir soluções.
Nas simulações de segundo turno para 2026, Lula voltou a liderar contra Jair Bolsonaro (com 6 pontos de vantagem) e se mantém tecnicamente empatado com Tarcísio de Freitas. Michelle Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro oscilaram negativamente.