Trump pela culatra: tarifaço dos EUA já ajudou a turbinar popularidade de líderes de países ‘rivais’; veja lista

Governos de México, Canadá, Reino Unido e França, além da União Europeia, passaram a ter uma aprovação maior após serem alvos dos EUA. Especialistas analisam o efeito provocado por Trump. Brasileiros ‘invadem’ perfil de Trump e dominam comentários
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem recorrido ao aumento da tarifa contra países estrangeiros como estratégia de pressão. Em muitos casos, as medidas resultam em um efeito colateral: o aumento da popularidade dos governos que são alvo das taxas.
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▶️ Contexto: Trump anunciou tarifas de 50% contra produtos brasileiros em uma carta publicada na quarta-feira (9). Segundo ele, as taxas entrarão em vigor no dia 1º de agosto. O presidente americano usa como argumento uma premissa equivocada, de que os EUA têm déficit na balança comercial em relação ao Brasil — na verdade, os EUA têm superávits seguidos com o Brasil desde 2009.
Houve um fato inédito na carta ao Brasil: diferentemente das tarifas aplicadas a outros países, em que o foco era a economia, Trump usou a medida citando motivos políticos e saiu em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Segundo Trump, Bolsonaro é alvo de uma “caça às bruxas” pela Justiça do Brasil. O ex-presidente responde a uma ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento na tentativa de golpe de Estado em 2022.
A imprensa internacional interpretou o gesto de Trump como um ataque motivado por questões pessoais, já que Bolsonaro é seu aliado.
🫵 Ameaça x Realidade: Desde o início do mandato, Trump tem usado tarifas como instrumento de pressão, inclusive contra aliados. Ele diz que os EUA foram prejudicados por muito tempo e que é preciso corrigir esse desequilíbrio. Por outro lado, muitas das taxas anunciadas não entraram em vigor.
Em abril, Trump anunciou tarifas recíprocas contra dezenas de países, mas depois adiou a cobrança de grande parte delas.
Canadá e México também foram ameaçados com tarifas de 25% sobre todos os produtos exportados aos EUA, mas a medida acabou restrita a alguns itens.
No caso dos produtos europeus, o governo anunciou tarifas de 25%, mas também postergou a cobrança para negociações.
Nesta quarta-feira (10), Trump anunciou que enviaria cartas ao Canadá e União Europeia com o aviso de novas tarifas.
O vaivém nos anúncios levou o mercado a criar a expressão “Trump Always Chickens Out”, ou “Trump Sempre Amarela”, em tradução livre.
📈 Popularidade: Pesquisas de opinião indicam que as ameaças de Trump estão influenciaram diretamente a aprovação dele. Os americanos temem que as tarifas aumentem o custo de vida nos EUA. Enquanto isso, a aprovação de alguns governos que foram alvos das medidas subiu.
No Canadá, o Partido Liberal se manteve no poder e venceu as eleições legislativas em abril após uma virada atribuída à rejeição da população às tarifas de Trump.
No México, a aprovação da presidente Claudia Sheinbaum chegou a 80% no auge da crise entre os dois países.
Na Europa, as avaliações do presidente francês, Emmanuel Macron, e do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, também melhoraram após as ameaças.
Em toda a União Europeia, uma pesquisa indicou que 52% dos europeus confiavam no bloco — o melhor resultado em 18 anos.
🔎 Diante das ameaças de Trump, alguns países observaram movimentos de unidade e patriotismo. Para Ian Bremmer, CEO da consultoria Eurasia, as taxas de Trump ao Brasil podem beneficiar Lula politicamente, assim como aconteceu com governos de outros países.
“Acredito que o tiro vai sair pela culatra. Acho que vai ajudar o Lula e vai prejudicar Bolsonaro”, analisa. “Acho que isso é um grande erro em praticamente todos os níveis.”
Nesta reportagem você vai ver:
Canadá e México: como as ameaças de Trump fortaleceram governos vizinhos
Reino Unido: o movimento feito por Starmer
União Europeia: a postura de Macron e aprovação do bloco
Trump: aprovação em queda e receio na economia
Brasil: a situação atual de Lula
1. Canadá e México
Presidente do México, Claudia Sheinbaum, diz que seu governo tem um plano para lidar com tarifas dos EUA sobre produtos mexicanos em coletiva de imprensa em 3 de março de 2025.
REUTERS/Luis Cortes
Canadá e México viram ameaças de tarifas indo e voltando. No fim de janeiro, Trump anunciou que iria taxar em 25% produtos canadenses e mexicanos importados. O objetivo seria pressionar os vizinhos a combater a imigração ilegal e o tráfico de drogas para os EUA.
Em fevereiro, Trump suspendeu as tarifas por um mês após um acordo com Sheinbaum e Trudeau. No início de março, voltou a confirmar as taxas.
Ainda em março, o presidente voltou atrás e adiou a cobrança sobre produtos que se enquadram no “USMCA”, que é um acordo comercial entre EUA, México e Canadá.
Atualmente estão em vigor tarifas de 10% sobre produtos de energia do Canadá, além de taxas de 25% para produtos mexicanos e canadenses que estão foram do USMCA.
Na quarta-feira (10), Trump anunciou novas tarifas de 35% contra o Canadá a partir de 1º de agosto.
Efeitos das tarifas foram sentidos nos dois países. Veja a seguir:
▶️ Canadá
Pesquisas passaram a indicar favoritismo do Partido Liberal nas eleições, que antes aparecia atrás dos conservadores da oposição.
Em abril, com uma campanha impulsionada pela crítica às medidas de Trump, os liberais venceram as eleições, continuaram no poder e ampliaram o número de cadeiras na Câmara.
Enquanto isso, no comércio, lojas canadenses começaram a boicotar produtos dos EUA e iniciaram uma campanha de valorização de itens do próprio país.
Cafeterias também mudaram o nome do café “americano” para “canadiano”.
Cafeterias canadenses mudam nome de café ‘Americano’ em meio a guerra comercial com os EUA
Black Creek Coffee
▶️ México
A aprovação da presidente Claudia Sheinbaum subiu de 75%, no início de janeiro, para 80% em meados de fevereiro, segundo levantamento da Buendía & Marquéz.
No início de fevereiro, ela reuniu milhares de pessoas na Cidade do México em um “festival” de orgulho nacional.
Em discurso, Sheinbaum defendeu a soberania do país e disse que o povo mexicano não poderia ser afetado por decisões de “governos estrangeiros ou hegemonias”.
Pesquisas recentes apontam que a aprovação da presidente perdeu fôlego, mas continua acima de 70%.
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2. Reino Unido
Trump segura um acordo comercial assinado com o Reino Unido durante reunião com o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, na cúpula do G7, no Canadá.
Reuters
Trump anunciou tarifas de 10% para produtos do Reino Unido. O país também foi afetado por taxas de 50% nas exportações de aço e alumínio para os EUA, além de 25% sobre automóveis e peças automotivas.
🌎 Antes mesmo de as tarifas entrarem em vigor, Trump recebeu o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, na Casa Branca. As taxas foram discutidas durante o encontro.
Em março, Starmer afirmou que “todas as opções estavam na mesa”, sugerindo uma possível retaliação. Por outro lado, indicou que buscaria uma solução negociada.
Durante a crise, a aprovação do premiê cresceu 10 pontos percentuais, segundo o jornal The Guardian.
Em junho, Reino Unido e EUA anunciaram um acordo comercial, tornando os britânicos os primeiros a fechar um entendimento do tipo com o governo americano.
O acordo prevê cotas para exportação de aço e alumínio isentas de tarifas.
O tratado também autoriza os EUA a importarem até 100 mil carros britânicos por ano com taxa reduzida de 10%.
As tarifas foram totalmente eliminadas para o setor aeroespacial britânico, incluindo aviões e peças.
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3. União Europeia
Macron segura no braço de Trump antes de corrigi-lo, na Casa Branca, em 24 de fevereiro de 2025
REUTERS/Brian Snyder
No fim de fevereiro, Trump disse que pretendia taxar produtos importados da União Europeia. Ele justificou a medida afirmando que os europeus estariam “tirando vantagem” dos americanos nas trocas comerciais. Em abril, anunciou tarifas de 10%, que ainda não entraram em vigor.
🤝 Frente ampla: O presidente da França, Emmanuel Macron, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, lideraram as negociações com Trump. Macron chegou a viajar a Washington para um encontro com o presidente americano.
Dias após a reunião, Macron disse ter poucas esperanças em relação às tarifas dos EUA e criticou a “abordagem comercial” proposta pelo governo Trump.
Nesse período, a aprovação de Macron subiu 7 pontos percentuais, chegando a 31% em março.
Também influenciaram o cenário as críticas de Trump à Ucrânia e a aproximação do presidente americano com a Rússia.
A imprensa francesa associou a melhora na avaliação de Macron ao posicionamento que ele adotou diante das ações de Trump.
Assim como no caso do México, a aprovação de Macron voltou a cair nos meses seguintes.
🔎 Reflexos na Europa: A percepção sobre a União Europeia também se fortaleceu. Em fevereiro, uma pesquisa indicou que 74% da população acreditava que seus países tinham mais vantagem por pertencerem ao bloco.
O índice foi o melhor registrado desde 1983, quando a série histórica começou.
90% afirmaram que o bloco deveria demonstrar maior unidade diante de desafios globais.
52% disseram confiar na União Europeia — o melhor resultado em 18 anos.
Atualmente, EUA e União Europeia seguem negociando um acordo sobre as tarifas. No início do mês, Trump assinou uma ordem executiva que prevê o início da cobrança para 1º de agosto, mesma data prevista para o início do tarifaço contra o Brasil.
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4. Aprovação de Trump
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
Kevin Lamarque/Reuters
A aprovação de Trump passou a cair após o presidente anunciar tarifas contra outros países, segundo a média de pesquisas calculada pelo estatístico americano Nate Silver.
📉 Em março, o índice de aprovação de Trump ficou abaixo da desaprovação pela primeira vez desde o início do governo. A desaprovação atingiu o auge em abril, mesmo mês em que o presidente anunciou o tarifaço contra dezenas de países.
📉 Uma pesquisa divulgada pela Reuters em março apontou que 57% dos norte-americanos acreditavam que Trump estava sendo “muito errático” em suas ações para a economia dos Estados Unidos.
A inflação apareceu como a principal preocupação dos norte-americanos. Segundo a Reuters, seis em cada dez entrevistados disseram que essa deveria ser a prioridade do governo.
Além disso, 70% dos entrevistados afirmaram acreditar que as tarifas impostas a produtos importados de outros países tornam alimentos e outros itens mais caros para os americanos.
Apenas 32% aprovam as ações do presidente para reduzir o custo de vida.
📉 Em uma nova pesquisa divulgada no fim de junho, 57% dos entrevistados disseram desaprovar a forma como Trump conduz a política econômica dos EUA, enquanto 35% aprovam. O levantamento ainda mostrou que:
54% desaprovam a política de Trump para o comércio internacional;
54% desaprovam as políticas tributárias;
59% afirmam que o país está no caminho errado para combater a inflação;
De modo geral, 57% desaprovam o governo Trump, contra 41% que aprovam.
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5. A situação do Brasil
Lula em coletiva à imprensa no Palácio do Planalto em 9 de julho de 2025
Reuters/Adriano Machado
A última pesquisa Quaest, divulgada em 4 de junho, mostrou que 57% desaprovam o governo Lula e 40% aprovam.
📉 Momento ruim: A desaprovação de Lula oscilou para cima dentro da margem de erro, em relação à pesquisa divulgada realizada em março. Foi o pior índice desde o início do mandato. Veja os números:
Desaprova: 57% (eram 56%);
Aprova: 40% (eram 41%);
Não sabe/não respondeu: 3% (eram 3%).
🔎 Ian Bremmer, CEO da consultoria Eurasia, afirmou que as taxas de Trump ao Brasil se enquadram como uma vingança política contra Lula. Segundo ele, a medida pode beneficiar o petista politicamente, assim como aconteceu com governos de outros países.
“Acredito que o tiro vai sair pela culatra. Acho que vai ajudar o Lula e vai prejudicar Bolsonaro”, analisa. “Acho que isso é um grande erro em praticamente todos os níveis.”
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