Haddad vê decisão de Trump sobre tarifas como ato político e culpa família Bolsonaro por tensão com EUA

Para o ministro da Fazenda, não há ‘racionalidade econômica’ na medida. Haddad também criticou o posicionamento do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas: ‘Candidato a vassalo’. Montagem mostra Haddad e Trump
TON MOLINA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO; ROBERTO SCHMIDT/AFP
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou nesta quinta-feira (10), que não há “racionalidade econômica” na decisão do presidente americano, Donald Trump, em aumentar as tarifas impostas a produtos brasileiros. Segundo ele, trata-se de uma decisão política (leia mais abaixo).
“Eu acredito que essa decisão é uma decisão eminentemente política, porque ela não parte de nenhuma racionalidade econômica. Não há racionalidade econômica no que foi feito ontem [quarta], uma vez que os Estados Unidos, como todos sabem, ele é super arbitrário com relação à América do Sul como um todo, e ao Brasil também”, afirmou Haddad.
“O Brasil como um todo, nos últimos 15 anos, nós tivemos um déficit de bens e serviços de mais de US$ 400 bilhões dos EUA, então não há racionalidade econômica na medida que foi tomada”, prosseguiu.
Haddad também culpou a família do ex-presidente Jair Bolsonaro por ter contribuído para a decisão de Trump. O ministro também fez críticas ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
“O próprio Eduardo Bolsonaro disse a público que se não vier o perdão, as coisas tendem a piorar. Isso ele disse publicamente, fazendo todos nós acreditarmos — porque não há outra explicação — de que esse golpe contra o Brasil, contra a soberania nacional, foi medido de forças dentro do país. Até a extrema direita vai ter que reconhecer, mais cedo ou mais tarde, que deu um tiro no pé”, argumentou.
As declarações do ministro foram dadas em uma entrevista ao programa “Barão Entrevista” do Canal do Barão. Ao ser questionado por um jornalista sobre Tarcísio, Haddad sugeriu que o governador de São Paulo seria alguém submisso aos EUA.
“Sobre o governador, o governador errou muito. Porque ou bem uma pessoa é candidata à presidente, ou é candidata a vassalo. E não há espaço no Brasil para vassalagem, desde 1822 isso acabou. O que está se pretendendo aqui? Ajoelhar diante de uma agressão unilateral sem nenhum fundamento econômico”, pontuou.
Ameaça ao Brics
Outro ponto mencionado por Haddad foram as ameaças de Trump ao Brics — bloco que agrupa países do Sul Global. O ministro detalhou a diversidade de parcerias que o Brasil vem firmando. Além disso, sinalizou que o país tem tamanho “para não pensar em se alinhar a nenhum bloco”.
“Nós não mudamos a atitude em relação ao governo dos Estados Unidos respeitando a escolha do povo americano e dizendo: continuamos abertos a parcerias. Nós temos muitas áreas de interesse comum”, sinalizou.
“Não há porque não voltar a discutir em bases econômicas que sejam boas para os dois lados, que sejam edificantes para as duas nações que são amigas há 200 anos”, prosseguiu.
Na entrevista, Haddad também afirmou que o governo precisa melhorar a sua comunicação com a população e o enfrentamento a fake news, que, na avaliação do ministro, prejudica a imagem do Executivo e o entendimento sobre as políticas públicas implementadas.
LEIA MAIS:
Lei da Reciprocidade: entenda o texto citado por Lula para responder tarifaço de Trump
Tarifa de 50%: Brasil enfrenta a maior taxa entre países notificados por Trump; veja lista
Governadores comentam ‘tarifaço’ de Trump e reforçam posições contra e pró-governo Lula
Governo estuda retaliação após Trump anunciar tarifa de 50% ao Brasil
Tarifas de 50%
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nessa quarta-feira (9) a imposição de taxa de 50% sobre a importação de produtos brasileiros, a mais alta entre as novas tarifas divulgadas pelo norte-americano (entenda mais abaixo).
A determinação gerou reações negativas do governo brasileiro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu que o país não aceitará ser tutelado por ninguém e que a elevação unilateral de tarifas sobre exportações brasileiras anunciada será respondida com base na Lei da Reciprocidade Econômica.
A lei, aprovada pelo Congresso quando Trump começou a impor tarifas extras a países de todo o mundo, prevê que o Brasil deve reagir de forma semelhante ao aumento de taxas.
A tarifa de 50% anunciada nesta quarta-feira (9) por Donald Trump sobre produtos brasileiros é a mais alta entre as novas taxas divulgadas até agora pelo presidente dos Estados Unidos.
Na segunda-feira, o republicano iniciou o envio de cartas informando as tarifas que os países terão de pagar a partir de 1º de agosto caso não firmem um acordo comercial com os EUA. No primeiro dia, 14 nações receberam os comunicados.
De forma geral, Trump definiu tarifas mínimas sobre produtos importados, que variam entre 20% e 50%, a depender do país, com validade a partir de 1º de agosto.
Entre as 22 nações já comunicadas, o Brasil ficou com a taxa mais alta. A menor tarifa foi anunciada para as Filipinas (20%). A expectativa é que novas cartas sejam divulgadas nos próximos dias.