‘Brasil e EUA têm longa parceria e seus povos não devem ser penalizados’, diz ex-ministra de Bolsonaro sobre tarifaço de Trump

Ao taxar produtos brasileiros em 50%, Trump disse que Bolsonaro sofre uma ‘caça às bruxas’ no país. A senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura do governo Jair Bolsonaro e relatora da Lei da Reciprocidade, defendeu nesta quarta-feira (9) uma postura de calma e equilíbrio institucional diante do anúncio do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que aplicará uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto.
Em nota, Tereza Cristina destacou que a relação entre Brasil e Estados Unidos é de longa data e que os povos dos dois países não devem ser penalizados por disputas políticas ou comerciais.
“As nossas instituições precisam ter calma e equilíbrio nesta hora. A nossa diplomacia deve cuidar dos altos interesses do Estado brasileiro. Brasil e Estados Unidos têm longa parceria e seus povos não devem ser penalizados. Ambos têm instrumentos legais para colocar à mesa de negociação nos próximos 22 dias”, afirmou a senadora.
A manifestação ocorre em meio à repercussão política intensa no Brasil sobre a medida de Trump.
A tarifa foi justificada pelo republicano com base em supostos ataques à liberdade de expressão e ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que ele classificou como alvo de uma “caça às bruxas” por parte do Supremo Tribunal Federal. A carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi publicada por Trump nesta quarta.
A senadora não comentou o conteúdo político da carta, mas reforçou a importância do uso da via diplomática e legal para buscar a reversão ou mitigação dos impactos da tarifa. Como relatora da Lei da Reciprocidade, ela tem sido ouvida em discussões sobre respostas comerciais e jurídicas do Brasil a ações unilaterais de parceiros comerciais.
Reciprocidade
A Lei da Reciprocidade, relatada pela senadora, permite que o Brasil reaja a medidas protecionistas.
Na prática, o projeto que permite ao governo brasileiro retaliar países ou blocos que imponham barreiras comerciais a produtos do Brasil. Com a medida, o governo poderá descumprir o princípio de “nação mais favorecida”, princípio da Organização Mundial do Comércio.
A proposta foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início de abril. Na época, a proposta ganhou força após as tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump.
Na época, a ministra da agricultura durante o governo Jair Bolsonaro, afirmou que a lei não foi feita para os Estados Unidos, e sim para o mundo todo, lembrando que a ideia surgiu a partir da ameaça de barreiras da União Europeia a produtos do Brasil por questões ambientais.
Reações no Congresso
Enquanto Tereza Cristina adota um tom diplomático, parlamentares da base do governo têm acusado a família Bolsonaro de atuar nos bastidores para estimular a retaliação americana. Senadores e deputados afirmam que Eduardo Bolsonaro, que está nos Estados Unidos, teria influenciado o conteúdo político da carta de Trump, que cita o julgamento de Jair Bolsonaro no STF.
O senador Humberto Costa (PT-PE) classificou a decisão como um ataque ao Brasil, e o deputadoLindbergh Farias (PT-RJ) acusou diretamente os bolsonaristas de “traição à pátria”.
Já o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) afirmou, em declaração on, que não esperava a medida e que as negociações em curso tratavam apenas de uma tarifa de 10% discutida no âmbito do Brics. Segundo a pasta, não havia qualquer sinal de uma tarifa generalizada sobre todos os produtos brasileiros.