Alckmin diz que tarifas de Trump sobre o Brasil são injustas, mas afirma que país não mudará o tom: ‘Temos 200 anos de amizade com os EUA’
Vice-presidente criticou possível aumento de tarifas comerciais em eventual governo Trump, mas disse que o Brasil manterá postura de diálogo. Alckmin diz que tarifas de Trump contra o Brasil são injustas
O vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou nesta terça-feira (9) que considera injustas as novas tarifas comerciais anunciadas pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros. Apesar da crítica, Alckmin garantiu que o governo brasileiro manterá uma postura diplomática nas relações com Washington. “Temos 200 anos de amizade com os EUA”, afirmou.
A declaração foi dada após Trump anunciar que taxaria o Brasil. Mas antes de o presidente americano confirmar a tarifa de 50%.
Durante um evento com líderes africanos na Casa Branca, o republicano disse que o Brasil “não tem sido bom conosco” e que divulgará os detalhes da tarifação em breve.
Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, reagiu:
“Eu não vejo nenhuma razão para aumento de tarifa em relação ao Brasil. O Brasil não é problema para os EUA, é importante sempre reiterar. Os EUA realmente têm um déficit de balança comercial, mas com o Brasil têm superavit. Dos 10 produtos que eles mais exportam para nós, 8 têm alíquota zero, não pagam imposto.”
“É uma medida que, em relação ao Brasil, é injusta e prejudica a própria economia americana, porque há uma integração na área comercial. Vamos pegar o caso do aço: nós somos o terceiro comprador do carvão siderúrgico americano. Fazemos o produto semi elaborado e vendemos para os EUA, que finalizam. Então, ao taxar, eles encarecem a própria cadeia”, completou.
Apesar do tom crítico, o vice-presidente descartou qualquer escalada de tensão.
“Nós não vamos mudar o tom. Tem que ser o mesmo. Temos 200 anos de amizade com os EUA.”
Trump mira Brics e promete tarifa de 10% ao bloco
O Brasil foi citado nominalmente por Trump em sua nova rodada de medidas tarifárias. Nesta segunda leva de notificações, ao menos sete países já receberam cartas do governo americano com as novas alíquotas, que variam de 25% a 40%. O Brasil, segundo o ex-presidente, será incluído nesta lista entre hoje e amanhã.
Além disso, Trump ameaçou aplicar uma tarifa adicional de 10% a qualquer país membro do Brics — grupo de países emergentes que inclui, além do Brasil, Rússia, China, Índia, África do Sul, Egito, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Etiópia, Indonésia e Irã. Para o republicano, o bloco estaria tentando “destruir o dólar” como moeda padrão internacional.
“Se eles quiserem jogar esse jogo, tudo bem, mas eu também sei jogar”, disse Trump.
A declaração provocou reação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que afirmou que os países do Brics são soberanos e que o Brasil não aceita intromissão.
“Nós defendemos o multilateralismo”, disse Lula.
Dados do comércio
Embora Trump afirme que as tarifas servem para corrigir déficits na balança comercial dos EUA, os dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que, desde 2009, os Estados Unidos acumulam superávit de US$ 88,61 bilhões com o Brasil. Isso equivale a cerca de R$ 484 bilhões na cotação atual.
Ou seja, os EUA vendem mais ao Brasil do que compram, o que contradiz o argumento de que o país seria uma ameaça econômica aos americanos.
Analistas avaliam que a medida tem caráter político e geopolítico, com o objetivo de ampliar a margem de negociação de Trump com países estratégicos em caso de retorno à presidência.
Medida faz parte de ofensiva global
Trump retomou sua política de tarifas unilaterais com o envio de notificações formais a mais de 20 países nos últimos dias. A medida faz parte do plano de “tarifas recíprocas”, que define alíquotas mínimas para importações entre 25% e 40%, com início da cobrança previsto para 1º de agosto de 2025.
De acordo com o ex-presidente, não haverá nova prorrogação do prazo. “Todo o dinheiro será devido e pagável a partir de 1º de agosto”, afirmou em publicação na rede Truth Social.