Na Argentina, Lula visita Cristina Kirchner em prisão domiciliar

Na Argentina, Lula visita Cristina Kirchner em prisão domiciliar


Lula está em Buenos Aires para Cúpula do Mercosul, onde recebeu da Argentina a presidência rotativa do bloco. Presidente brasileiro não tem encontro previsto com Javier Milei, líder argentino. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontrou, nesta quinta-feira (3), com a ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner, que atualmente cumpre prisão domiciliar. Lula está em Buenos Aires desde quarta-feira (2), onde participa da cúpula do Mercosul.
O encontro com Kirchner ocorreu no início da tarde tarde, após a participação do petista em reunião dos chefes de Estado do bloco sul-americano. Na ocasião, o brasileiro assumiu a presidência rotativa do Mercosul repassada pelo líder argentino, Javier Milei.
Os dois, no entanto, não tem uma agenda bilateral prevista (leia mais aqui).
Lula assume presidência rotativa do Mercosul nesta quinta (3)
A visita foi autorizada pela Justiça argentina a pedido da defesa da ex-presidente. No mês passado, Lula ligou para Cristina Kirchner após a Suprema Corte da Argentina rejeitar um recurso que pedia a anulação da condenação dela por corrupção.
“Falei da importância de que se mantenha firme neste momento difícil. Notei, com satisfação, a maneira serena e determinada com que Cristina encara essa situação adversa e o quanto está determinada a seguir lutando”, publicou Lula em uma rede social à época.
A ex-presidente Cristina Kirchner em 10 de junho de 2025
REUTERS/Tomas Cuesta
Condenação de Cristina Kirchner
A ex-presidente argentina foi condenada por favorecer Lázaro Báez, dono de uma empreiteira e amigo do casal Kirchner. Segundo a denúncia, o empresário venceu 51 licitações para obras públicas, muitas delas superfaturadas e sequer concluídas.
De acordo com a acusação, após vencer as licitações, Báez repassava parte dos recursos públicos das obras para Cristina e seu marido, Néstor Kirchner — que governou a Argentina entre 2003 e 2007 —, além de empresas de familiares do casal.
A ex-presidente foi acusada de chefiar uma organização criminosa e de conduzir uma administração fraudulenta ao longo de 12 anos, período que inclui o governo de Néstor e os dois mandatos dela. O esquema teria causado um prejuízo de US$ 1 bilhão aos cofres públicos.
Cristina nega as acusações e afirma que o tribunal já tinha a sentença pronta desde o início do processo.
Sem encontro com Milei
Apesar da visita oficial, Lula não tem encontro previsto com o atual presidente argentino, Javier Milei. Segundo a agenda divulgada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência, não há reunião bilateral programada entre os dois líderes.
O presidente, no entanto, teve encontros com o presidente Paraguaio, Santiago Peña, e mais tarde deve se reunir com o líder da Bolívia, Luís Arce.
Esta é a primeira viagem de Lula à Argentina desde a posse de Milei, em dezembro de 2023.
O formato tradicional das reuniões do Mercosul prevê que apenas os presidentes, intérpretes e, eventualmente, alguns assessores próximos participem dos encontros bilaterais reservados.
Durante a campanha eleitoral, Milei fez diversas críticas públicas a Lula e ao seu partido. Em 2024, o presidente argentino chegou a visitar o Brasil, mas se reuniu apenas com o ex-presidente Jair Bolsonaro, sem contato com Lula.
Acordos comerciais no Mercosul
A cúpula do Mercosul em Buenos Aires marca o fim da presidência pro tempore da Argentina e o início do comando do Brasil à frente do bloco.
📌Pelo sistema rotativo, cada país lidera o grupo por um semestre, sendo responsável por articular negociações, definir prioridades e sediar encontros entre ministros e chefes de Estado.
O encontro desta quinta acontece um dia após o anúncio do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA). Segundo o Itamaraty, a parceria criará uma zona de livre comércio com cerca de 300 milhões de pessoas e um PIB conjunto superior a US$ 4,3 trilhões.
O governo brasileiro espera que o acordo com a EFTA seja formalmente assinado ainda em 2025. Paralelamente, Lula também busca concluir neste ano o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.
Negociado desde 1999, o acordo com os europeus foi finalizado em 2019 e entrou na fase de revisão, que só foi concluída em 2024, durante a cúpula do Mercosul realizada no Uruguai. Agora, a ratificação do tratado depende da aprovação do Conselho e do Parlamento Europeu.
Países como a Espanha se mostram favoráveis ao pacto, enquanto outros, como a França, apresentam resistência. O presidente Emmanuel Macron alega que o acordo seria desigual, por considerar que os padrões ambientais impostos aos produtores europeus são mais rígidos que os exigidos aos sul-americanos.
Diante disso, Lula tem defendido que a França apresente uma proposta alternativa para viabilizar o avanço das negociações.