Chefe de segurança nas Olimpíadas e presente nos 3 governos Lula: quem é diretor-geral da Abin indiciado pela PF

Chefe de segurança nas Olimpíadas e presente nos 3 governos Lula: quem é diretor-geral da Abin indiciado pela PF


Para a PF, atual direção da Abin, sob o comando de Luiz Fernando Corrêa, teria agido para impedir as apurações sobre “Abin paralela”. Outras 35 pessoas foram indiciadas. PF identificou mais de 60 mil consultas ilegais feita pela ‘Abin paralela’
A Polícia Federal (PF) indiciou, nesta terça-feira (17), 36 pessoas no inquérito que apura um suposto esquema de espionagem ilegal com uso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Entre os indiciados, está o atual diretor-geral da agência, Luiz Fernando Corrêa.
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Para a PF, a atual direção da Abin teria agido para impedir as apurações, que se desenrolaram sob o atual governo. Os servidores da Abin usavam instrumentos adquiridos pela agência durante os governos Bolsonaro e Michel Temer (MDB) para coletar ilegalmente informações e alimentar o gabinete do ódio.
🔎 O que é indiciamento? O indiciamento é um procedimento que ocorre na fase de investigação criminal. Neste momento, ainda não há processo penal e não há réus. Ocorre quando o delegado de polícia, avaliando o caso, conclui que há indícios de crime e associa os possíveis delitos a uma pessoa ou grupo de pessoas.
Quem é Luiz Fernando Corrêa
Nascido em Santa Maria (RS), em 1958, Corrêa é delegado de Polícia Federal aposentado e já atuou como diretor-geral do Departamento de PF e Secretário Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça durante os dois primeiros governos de Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2003 e 2011.
Corrêa também foi diretor de Segurança do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, de 2011 a 2016, de acordo com o governo brasileiro.
Responsável pela primeira nomeação do atual diretor da Abin a um cargo no governo federal, em 2003, o então ministro da Justiça, Tarso Genro, afirma que Corrêa exerceu um “trabalho extraordinário” à frente da Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça.
“Era um excelente servidor público e fez um trabalho extraordinário na Secretaria Nacional de Segurança Pública, em todo o período em que fui ministro da Justiça. Tenho as melhores referências dele, mas evidentemente não tenho muitas informações a respeito da sua conduta atual. É uma pessoa que mereceu a minha confiança e ainda merece”, diz o ex-ministro.
De acordo com apuração da jornalista Daniela Lima, a PF entende que a espionagem ocorrida durante o governo Bolsonaro e a tentativa de obstrução de dentro da Abin, ocorrida na atual gestão, reforçam a defesa feita por uma ala da corporação de que a agência precisa passar por uma reforma.
Para esses investigadores, a Abin está operando de maneira indiscriminada, sem controle e sem qualquer respaldo.
A questão envolvendo Corrêa tornou-se um entrave para governo Lula, que terá de tomar uma posição sobre o indiciamento. Segundo o jornalista Valdo Cruz, Corrêa é um nome da confiança do presidente e sabe que há uma guerra entre PF e Abin. Nesta terça (17), ninguém comentou indiciamento do diretor-geral da Abin, à espera da chegada de Lula ao Brasil após voltar do Canadá, onde participou da reunião do G7.
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Luiz Fernando Corrêa em sabatina na Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal.
Roque de Sá/Agência Senado
O que aponta a investigação
As investigações indicaram que policiais, servidores e funcionários da Abin formaram uma organização criminosa para monitorar pessoas e autoridades públicas, invadindo celulares e computadores durante a gestão Bolsonaro.
Entre os alvos da espionagem estavam autoridades do Judiciário, Legislativo e Executivo, além de jornalistas. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) também estaria entre os alvos do grupo.
A PF aponta que Corrêa “usurpou o exercício da função de maneira livre, consciente e voluntária”, “meses antes de sua nomeação oficial”, e participou de reuniões onde “teve acesso a informações sigilosas e realizou ações que notadamente tiveram o intento de obstruir a investigação sobre a organização criminosa (ORCRIM) instalada no órgão”.
“Sua primeira ação, ainda no exercício ilegal do cargo, foi a de minimizar o escândalo do uso clandestino da ferramenta FirstMile, afirmando que ‘a montanha vai parir um rato'”, diz o relatório da PF. Segundo o documento, ele teria trabalhado “para desacreditar a investigação classificando-a como ‘política'”.
Infográfico – O que é a Abin paralela, segundo a PF.
Arte/g1
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