Atual direção da Abin atuou de forma sistêmica para dificultar investigação de ações clandestinas, diz PF

Atual direção da Abin atuou de forma sistêmica para dificultar investigação de ações clandestinas, diz PF


Diretor da ABIN, Luiz Fernando Corrêa, foi indiciado pela Polícia Federal por prevaricação e coação no curso do processo. PF afirma que Jair e Carlos Bolsonaro integravam núcleo da ‘Abin paralela’
A Polícia Federal afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que ações da atual direção da Agência Brasileira de Inteligência provocaram efeitos nefastos para a investigação de ações clandestinas do órgão.
A PF apontou um “estado de coação” e um embaraçamento sistêmico para dificultar o avanço das apurações de desvios no uso de ferramentas de espionagem na agência.
O atual diretor da ABIN, Luiz Fernando Corrêa, foi indiciado pela Polícia Federal por prevaricação e coação no curso do processo.
De acordo com os investigadores, Corrêa assumiu o comando da agência de forma informal e “agindo como o chefe de facto da agência, participou de reuniões de cúpula, teve acesso a informações sigilosas e realizou ações que notadamente tiveram o intento obstruir a investigação sobre a organização criminosa (ORCRIM) instalada no órgão”.
Para a PF, o atual diretor começou minimizando o escândalo dizendo que a “a montanha vai parir um rato”, mas juntamente com outros diretores agiu para blindar os principais responsáveis pela “degradação da ABIN” pela organização criminosa.
Dentre os protegidos estava, segundo o relatório, Paulo Maurício Fortunato Pinto, apontado como “figura central na gestão do FIRST MILE e posteriormente nomeado seu secretário. Tal circunstância demonstra seu conhecimento precoce da crise instalada e sua inserção nas tratativas para gerenciá-la”.
A PF afirmou que a partir de uma série de reuniões foi montada a “Estratégia da Direção Geral”, que tinha o objetivo de embaraçar a investigação.
Essa espécie de plano previa:
a entrega de nomes à PF para evitar busca e apreensão e baixar fervura
atribuir à autoridade policial a intenção de prejudicar os servidores
Tentar direcionar a investigação para o STF, tirando a investigação da FP
evitar o vazamento dos nomes dos servidores
Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência
Reprodução
Trocar investigação da PF por sindicância interna
Estabelecer “acordos e entendimentos internos”, criando-se uma comissão para “participar das decisões junto com a direção geral” e “construir uma estratégia de defesa em conjunto”, visando unificar discursos e impedir colaborações espontâneas
“Esta “estratégia conjunta”, conduzida sob a égide de Luiz Fernando Corrêa, produziu efeitos concretos e nefastos para a investigação: impactou diretamente a Sindicância Investigativa interna, que, apesar dos esforços da Corregedoria à época, não logrou êxito inicial na identificação da ORCRIM e dos responsáveis pelas irregularidades”, escreveu a PF.
Na avaliação da PF, a omissão de nomes relevantes na lista enviada à PF (como o de Alan Oleskovicz, apontado como intermediário de ordens da gestão Alexandre Ramagem, dificultou a reconstituição da cadeia de comando e a identificação de atores-chave nas ações clandestinas.
“Reitera-se que Ala Oleskovicz foi identificado como responsável, por aventar, ações para ‘melar as eleições’. A postura da Direção Geral resultou em um clima de coação e desconfiança, desestimulando a colaboração de servidores que detinham informações relevantes, conforme exemplificado pela abordagem realizada por Lúvio Andrade ao oficial Nilton, que ameaçava “entregar todo mundo”, sob o argumento de que a ‘Direção Geral’ havia articulado a impunidade. Neste ponto, destaca-se o “estado de coação” da instituição ao ponto de Oficial da ABIN procurar pessoalmente delegado de Polícia Federal para lhe pedir que não “entregasse” todo mundo”, registrou o documento.
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A PF ressaltou que “o embaraçamento sistemático exigiu esforço redobrado da equipe de investigação policial para superar os obstáculos criados (“prejuízo imensurável”, “obstáculos transpostos se deram com o máximo esforço desta unidade”), retardando o descobrimento dos fatos delituosos ocorridos na ABIN e na consequente perda do acervo probatório posto que não foram preliminarmente identificados a devida posição de determinados sujeitos na presente investigação”.
A investigação diz que Corrêa ordenou diretamente “a movimentação da estação de trabalho do ex-diretor- adjunto investigado Victor Felismino Carneiro em fevereiro de 2024, motivado pela deflagração da Operação Tempus Veritatis. A ordem foi abortada após alerta da Segurança Orgânica sobre a ilegalidade e o risco de obstrução”.
A PF também vê que Alessandro Moretti, que foi número 2 de Corrêa, agiu para obstruir a investigação.
“A gestão protelatória e contraditória da entrega dos logs por Moretti causou danos direto à investigação policial: Retardou o acesso da autoridade policial a elemento de prova fundamental para a identificação da ORCRIM e das ações clandestinas. O atraso, ainda, serviu para ganhar tempo e tentar atingir os intentos declarados nos termos apresentados pelos investigados” O relatório indica que “elementos indicam a participação ou ciência de MORETTI em ações que visavam descreditar autoridades ou investigações”.